Vai Messi!


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11 de julho de 2016

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Vai Messi!


Messi perdeu um pênalti no final da Copa América Centenário, no mês passado. Até o fechamento desta edição, marcou 508 gols. Ganhou cinco prêmios Bola de Ouro. Já conquistou vários campeonatos espanhóis, mundiais de clubes da FIFA, ganhou medalhas de ouro em olimpíadas. Venceu uma deficiência hormonal que o impedia de crescer. Mas diante de um pênalti perdido, se sentiu derrotado e falou em desistir da Seleção.

Não sou dos esportes, mas esse é o tipo de notícia que a gente ouve falar por vários dias. Então fiquei me perguntando: o que pode levar uma pessoa tão vitoriosa a um sentimento tão genuíno de derrota?

A resposta pode conjugar uma série de fatores, porém, acredito que o que tem mais peso é a expectativa. A expectativa que o mundo coloca sobre ele, que os argentinos colocam sobre ele, que os empresários colocam sobre ele, que o gandula coloca sobre ele. É peso demais. Como conseguir acertar a bola, com um pé que pesa tudo isso?

Mas acho que há algo que é ainda mais cruel do que essa exigência de perfeição que despejam sobre ele. A expectativa que ele deve ter a respeito de si mesmo. Obviamente, ninguém espera errar. Muito menos um jogador tão promissor, na final de um campeonato tão importante. Só que a carreira dele não se limita a um pênalti perdido e nem a pessoa dele se define por tal ocasião.

Junto com esse pensamento, me ocorreu que nem sempre sou tão leniente comigo como estou sendo com Messi. Talvez se eu tivesse perdido o pênalti, diria para mim mesma: “você ganha para isso, só faz isso da vida, como foi cometer esse erro tão imperdoável?”. O que será que você diria a si mesmo (a) se estivesse no lugar do Messi?

Todos os dias estamos lá, de frente para o gol. Quando acertamos, dizemos que isso se deve ao fato de que o ângulo era favorável, assim como a direção do vento e o grito da torcida que colaborou bastante. Mas quando chutamos para fora, então, a culpa é absolutamente nossa e de mais ninguém e a carregamos por aí como um fardo quase insustentável.

É por isso que eu acho que expectativas são pequenas bombas espalhadas pelo campo dos nossos sentimentos e, vez ou outra, pisamos nelas e voamos pelos ares, retalhados, feridos e confusos. Ou então, de tanto pisar em falso, optamos por parar no meio do caminho e simplesmente não pisar. Porque não pisar significa não correr o risco de se ferir.

Por causa da nossa fatídica mania de ter expectativas irreais, perdemos a tão bela capacidade de nos surpreender, de nos encantar, de acreditar. E passamos a vida como se estivéssemos em uma estação ferroviária abandonada, esperando por um trem que sabidamente não virá.

Ter expectativas muito altas é como sabotar seus próprios planos de felicidade. Tanto em relação a si, como em relação aos outros. Ninguém consegue ser perfeito o tempo todo e ninguém consegue agradar todo mundo, ao mesmo tempo. Então porque perder tempo tentando fazer isso a vida inteira?

Não posso dizer isso para o Messi e nem acho que iria adiantar. Mas posso dizer a você e a mim. Continue chutando, ainda que a trave seja o mais perto de um acerto que você chegue. Tente e quando errar, se arrependa, se perdoe e tente novamente. Nem uma Bola de Ouro vale o transtorno de carregar o peso da culpa.



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