Desdêmona é a primeira editora da região com foco nas vozes femininas


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5 de junho de 2018

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Desdêmona é a primeira editora da região com foco nas vozes femininas


Uma editora para o incentivo e apoio à escrita das mulheres

O ano era 1847, e aquela que seria uma das principais obras da literatura inglesa estava para ser publicada. O romance Jane Eyre, de Charlotte Brontë, foi revolucionário para a época de sua publicação, mas logo que saiu não era o nome da autora que acompanhava o livro, e sim, o pseudônimo Currer Bell. A escolha de um nome não feminino foi justamente para evitar cair em restrições literárias dos críticos da época que eram colocadas em de livros de mulheres. Mesmo hoje, ainda existem certas restrições que a própria sociedade impõe às publicações femininas, levando muitas vezes levam ao desencorajamento de novas obras.

J.K Rowling ficou conhecida pela autoria da famosa saga do bruxo “Harry Potter”, mas a britânica foi aconselhada pelo seu editor a não usar seu nome inteiro, Joanne Kathleen, e sim, apenas as suas iniciais para não afastar o público alvo, que eram meninos. Desde 2009, a organização americana VIDA realiza uma pesquisa anual sobre a percepção a respeito das mulheres em revisões de críticos literários, e apesar dos avanços em comparação com a época de Charlotte Brontë, as escritoras ainda são menos revisadas em relação a obras assinadas por homens.

Para incentivar e apoiar a escrita feminina, será lançada em Passo Fundo uma editora voltada para mulheres. A Editora Desdêmona é uma iniciativa que surgiu da autora Luciana Lhullier, conhecida pelas suas obras “No Coração da Floresta” e “A Casa de Dentro e Outras Loucuras”. Segundo ela, as mulheres são maioria no mundo e desempenham múltiplas funções diariamente, mas ainda têm pouco destaque em relação ao gênero masculino na literatura brasileira e esse é um fator que deveria ser questionado no país.

“Por conta de pesquisas, sabemos que 72% dos escritores brasileiros são homens. Seria esse um indicativo de que as mulheres não escrevem ou simplesmente não são publicadas? […] Acredito que as mulheres escrevam, mas suas oportunidades de publicação são menores que as dos homens, por diversas razões, inclusive a de não imaginar que isso seja possível. Diante disso, abrir uma editora para elas faz sentido”, explica a autora.

A inspiração para o nome da editora vem da personagem Desdêmona, presente na obra de William Shakespeare, “Otelo, o mouro de Veneza”, que através da narrativa e do trágico desfecho, deixou sua marca no cenário literário. Para Luciana, “poucas são as oportunidades das mulheres mostrarem seus textos sem precisar se enquadrar em categorias consideradas (injustamente) menores dentro da literatura”, para isso a editora servirá como um o espaço onde as vozes femininas encontrem apoio e encorajamento.

As coisas que as mulheres escrevem

Luciana Lhullier já escreveu sobre os caminhos misteriosos dos contos de fadas e, também, sobre nossa jornada para nos encontrarmos dentro de nós mesmos. Se inspirou e é inspirada por escritoras como Marina Colasanti, Terri Windling e Kate Chopin. Para Luciana, é necessário debater e refletir sobre quem são as mulheres que escrevem e inspiram. Por isso, no dia 22 de junho, no Teatro Múcio de Castro, às 19h30min, será lançado oficialmente a Editora Desdêmona durante o evento “As Coisas Que as Mulheres Escrevem”.

Na ocasião, além da própria Luciana Lhullier, estarão presentes a escritora e professora Piti Ughini, a autora Sueli Frosi e a doutoranda em Letras, pela Universidade de Passo Fundo, Raquel Cesar. O encontro irá discutir quais são as mulheres que as inspiraram a escrever, e terá apresentação da cantora Roberta Radalle e dos músicos Augusto Dossa e Alcemar Pitágoras. O evento é gratuito, mas é preciso garantir o convite na Biblioteca Pública Municipal Arno Viuniski ou na Livraria Delta.



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