Entrevista com Paulo Storani


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7 de outubro de 2019

Tempo de Leitura: 4 minutos

Entrevista com Paulo Storani


O ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Paulo Storani, foi um dos oficiais que serviu de inspiração para o famoso Capitão Nascimento, personagem interpretado por Wagner Moura nos Filmes Tropa de Elite 1 e 2, dos quais, também foi consultor e preparador de elenco. Boa parte de sua vida foi dedicada à segurança da população, tendo atuado também como Secretário Municipal de Segurança Pública da Prefeitura de São Gonçalo – RJ. Storani também é Mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2008), além de Pós-graduado em Administração Pública (2004), em Gestão de Recursos Humanos (2002), ambos pela Fundação Getúlio Vargas – RJ, e Treinamento Físico pela Universidade Gama Filho – RJ (1999). Foi também professor da Universidade Cândido Mendes, pesquisador do Instituto Universitário de Políticas Públicas e Ciências Policiais da Universidade Candido Mendes – RJ. Sua vasta experiência em áreas de liderança é hoje requisitada em todo o país, por onde Storani viaja e compartilha seu conhecimento em palestras e conferências. No dia 22 de outubro, ele estará em Carazinho, na Bier Site, a convite do IMEP – que comemora seu primeiro aniversário na cidade. A palestra “Construindo uma Tropa de Elite” será apresentada na noite e nessa entrevista exclusiva para a Contato VIP você vai sentir um pouco do que essa palestra vai abordar!

Como a sua experiência no BOPE te auxiliou na função de Secretário de Segurança e hoje te auxilia nas palestras e conferências?
Na verdade, foi o conjunto de todo conhecimento e experiências acumuladas ao longo de vinte cinco anos de vida profissional, na Polícia Militar, no BOPE, na Guarda Municipal do Rio de Janeiro, na assessoria dos Jogos Pan-americanos, nas duas graduações, nos diversos cursos de especialização, nos cursos de pós-graduação e mestrado em Antropologia que me permitiram ser o que sou e fazer o que faço, amparado por padrões de alto desempenho que aprendi no BOPE.

O que o BOPE tem em comum com os ambientes empresariais?
É preciso que as pessoas vejam o BOPE como uma organização de pessoas, que foram selecionadas e capacitadas para atuar em determinadas circunstâncias, e de recursos materiais disponibilizados para atender demandas específicas com um alto nível de qualidade de empenho e desempenho. Desta forma, podemos determinar os pontos em comum entre as duas realidades por se tratar de gente que se utiliza de recursos materiais e tecnológicos para cumprir sua missão.

De que forma os conceitos e métodos que constituem os fundamentos culturais e motivacionais das equipes do BOPE se adaptam ao dia a dia das empresas?
Para falar sobre isto, preciso esclarecer que estamos tratando de “alto desempenho”, e reconhecer que no Brasil vivemos a cultura do “desempenho”. Então, os conceitos e métodos do BOPE só teriam sentidos para as organizações que buscam os melhores resultados e reconhecem que precisam investir na seleção do perfil adequado, em capacitação permanente, melhorar a capacidade de planejar e executar, bem como desenvolver instrumentos de monitoramento da performance individual e coletiva. Assim, quando se adotam essas medidas, as organizações contrariam a cultura do “mediano”, do “mais ou menos” ou do “estudar para passar”, o que podemos chamar de “cultura da mediocridade” identificada nas formas de sentir, pensar e agir de gerações de pessoas que foram preparadas para “desempenhar”, e não em “alto desempenhar”. Este é o principal motivo das críticas aos modelos de alta performance, pois se tivéssemos sido preparados para isso durante nossa educação familiar e na formação escolar as pessoas não se sentiriam pressionadas, os resultados seriam melhores e o país estaria em outro nível de importância no cenário mundial, como os Tigres Asiáticos. Quero deixar claro que não defendo um ou outro modelo e que devemos respeitar limites individuais e legais, mas devemos reconhecer que cada pessoa deve fazer sua escolha sobre qual caminho seguir, eu escolhi assumir riscos, me preparar e fazer o melhor.

Como a frase “missão dada é missão cumprida” pode ser trabalhada de forma positiva no meio empresarial?
Primeiro devemos esclarecer que esta frase não é a versão pós-moderna do famoso “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Na verdade, ela está centrada no conceito de “Missão”, não aquela que fundamenta na declaração de identidade das organizações, mas aquela que traz sentido para nossa existência como pessoa, como profissional e como cidadão, pois dialoga com nossos valores pessoais e gera o motivo para a ação.

Quais são os maiores desafios que líderes e gestores encontram para construir uma equipe de alta performance?
Primeiro é abandonar os conceitos que relacionam liderança à chefia. Segundo, é ter a consciência que um líder é, sobretudo, um modelo a ser seguido, muito mais pelo exemplo que dá, do que pelos discursos que profere. Terceiro, que despertar as pessoas para alta performance será um trabalho árduo e contínuo, pois deverá liderar um movimento de contracultura.

O que é necessário fazer para superar esses desafios?
Primeiro, não ter dúvidas que está no caminho certo. Segundo desenvolver um plano com objetivos específicos, estratégias claras e responsabilidades e prazos bem definidos. Terceiro, montar uma equipe que esteja sintonizada com a missão

Sabemos que todos os ambientes de trabalho envolvem momentos de dificuldade e estresse. Como é possível garantir, além de uma alta performance, um ambiente harmonioso entre as pessoas que compõem uma equipe?
Não há como garantir isso. Mas coragem, integridade e sinceridade podem gerar maior harmonia e atenuar os impactos dos momentos voláteis, incertos, complexos e ambíguos.

O que faz um bom líder?
Boas batalhas, onde aprenderá com seus acertos e, principalmente, com seus erros.

De que forma o líder deve se portar para inspirar sua equipe?
Sempre demonstrando em suas atitudes aquilo que deseja de seus liderados.

Recentemente você lançou o livro Vá e vença: decifrando a Tropa de Elite. O que te motivou a escrevê-lo?
As pessoas que assistem minhas palestras sempre cobram uma fonte de referência. Me senti impelido por essa demanda e pelo desejo de compartilhar o que aprendi com as mais de duas mil e quinhentas organizações que atendi ao longo de onze anos como  conferencista e consultor. No livro, faço uma análise comparativa da cultura brasileira, da cultura das organizações e da cultura do BOPE, fundamentado nos princípios de alta performance. Todos os recursos provenientes dos direitos autorais são destinados à construção do Centro Cultural Pedro Storani, uma organização destinada à educação gratuita de música e dança de crianças de comunidades carentes na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Pedro é meu saudoso filho, desencarnado há três anos e meio, que nos inspirou a realizar essa obra social, como ele sempre dizia, “o ser humano foi feito para voar em bando, sozinhos dificilmente chegamos a onde queremos”, decidimos formar o lindo bando de AMIGOS DO PEDRO.



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