Entrevista – Fabrício Carpinejar


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17 de fevereiro de 2016

Tempo de Leitura: 3 minutos

Entrevista – Fabrício Carpinejar


Jornalista, poeta e cronista, Carpinejar ganhou os amantes da literatura esbanjando toda a sua sensibilidade e bom humor ao escrever sobre relacionamentos e emoções

Fabrício Carpi Nejar (43), conhecido como Carpinejar, como ele mesmo passou a assinar há alguns anos, é jornalista, poeta e cronista, famoso por ser um mestre ao falar sobre os relacionamentos. Filho dos poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, é natural de Caxias do Sul. Atualmente mora em Porto Alegre, é casado e pai de dois filhos:  Vicente (9) e Mariana (22).

Graduado em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na infância Carpinejar apresentava dificuldades para ler e escrever. Esse fato foi encarado por ele como um desafio e o instigou a ser o escritor de sucesso da literatura contemporânea que é hoje. Ele fala sobre emoções, sentimentos e relacionamentos, com tamanha sensibilidade e humor que cada leitor sente como se aquela crônica fosse feita exclusivamente para si.

Em que momento você descobriu que gostava de escrever?
Eu tive muita dificuldade em aprender a ler e escrever na infância, além de uma certa exclusão por parte dos colegas e isso me desafiou. A minha alfabetização foi bastante tardia, no final dos 7 anos. Então, através desta dificuldade eu aprendi o valor que é falar e escrever. Existe um folclore familiar de que o meu primeiro poema foi publicado no convite de enterro da minha avó, quando eu tinha 7 anos. Foi impresso um poema meu e da minha mãe, então, de certa forma, posso dizer que ela estreou comigo. (risos)

 

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Foto: Rodrigo Rocha

 

De onde vem as suas teorias sobre relacionamento?
A construção do meu mundo foi a partir da observação e da audição. Eu nunca fui daquela linhagem masculina de falar, gritar e exigir. Eu diria que a minha voz é masculina e o meu silencio é feminino. Meus textos são sempre biográficos, não é o que eu vivi ou o que eu poderia ter vivido, mas o que eu gostaria de ter vivido, sempre há uma inclusão em cada história.

Em que você se inspira para escrever?
Eu parto do mais simples, aquilo que é essencial e a gente desvaloriza, pois sempre estamos esperando um milagre. Não nos damos conta que poucas pessoas nos mostram que a nossa vida está certa, não está acontecendo em vão. Tento trabalhar as rotinas, os hábitos, aquele pouco que nos emociona muito, porque o amor é um filme de baixo orçamento, não precisamos de muito para ser feliz. A alegria é discreta, às vezes nem conseguimos explicar porque estamos tão felizes. O grande problema é que hoje as pessoas não querem estar alegres, elas querem apenas se mostrar alegres. Não tem nada melhor do que poder ir a uma praça, deitar no colo da tua mulher, embaixo de uma árvore e ficar conversando sem pressa e sem urgência. Isso é alegria!

Você escreve pensando em alguém?
Eu sempre aviso meus amigos e familiares que estar perto de mim é viver em um Big Brother sem eliminação. (risos) Eu sempre vou falar deles, daquilo que me incomoda e que me emociona. Praticamente todas as minhas obras poéticas são construídas centradas no núcleo familiar. Sempre fui de família italiana, exagerada, daquelas que contavam vantagens no almoço e isso rende muitos pensamentos.

Você costuma falar muito sobre ciúmes, como vê o papel deste sentimento em uma relação?
Eu tento desmistificar o ciúme, pois nós temos certa aversão a esse sentimento. Tanto que, no início da relação, a pessoa festeja quando o outro sente ciúme, e conforme o tempo passa ele passa a ser sinônimo de cobrança, censura e controle. Não é que o ciúme mude, somos nós que mudamos nossa perspectiva sobre ele durante uma relação. O ciúme é uma maneira de dizer que você se importa com a pessoa. O grande problema é quando ele é reprimido, escondido, quando vira investigação, daquelas em que a pessoa guarda para fazer flagrante.

 

 

Com um mundo cada vez mais injusto, como você faz para sempre ver o lado bom das coisas?
Acho que nós precisamos ser instigados a valorizar as nossas vidas e eu procuro fazer isso com meus textos. Costumo usar uma boa metáfora que é a seguinte: sempre que compro uma peça de roupa, todas as outras passam a ser novas também. Pois, por causa dela eu arrumo todo o guarda-roupa para potencializar as combinações e assim todas passam a ser novas. Eu penso que a crônica ou o poema são como uma nova roupa que acabam remoçando todos os nossos pensamentos.

Você costuma ler muito?
Eu sou viciado. Como estou sempre viajando, digo que tenho uma mochila de sequestrado, com livros para passar muitos dias em um cativeiro. Sempre estou lendo uns três ou quatro ao mesmo tempo.

Quais são as novidades que os leitores podem esperar para 2016?
Neste primeiro semestre eu vou trabalhar na produção de um novo livro de crônicas, chamado “Felicidade Incurável”, que, provavelmente, será lançado no segundo semestre.

 



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