Entrevista – Gustavo Cerbasi


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21 de dezembro de 2017

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Entrevista – Gustavo Cerbasi


No mês de novembro, a Faro – Assessoria e Consultoria em Educação e Formação Educacional Continuada, trouxe a Passo Fundo o escritor, consultor financeiro, professor, palestrante e administrador Gustavo Cerbasi, para uma incrível palestra sobre como fazer escolhas inteligentes para o seu bolso e sua vida. Gustavo é gaúcho de Caxias do Sul – e por poucos meses não foi gaúcho de Passo Fundo, visto que sua família morou na cidade por um tempo. Ele foi eleito como uma das 100 personalidades mais influentes do Brasil pela Revista Época – e não é a toa que acumula mais de 15 livros publicados e mais de 2 milhões de exemplares vendidos. Ele é considerado a maior referência do país quando o assunto é educação financeira – e nessa entrevista ele fala justamente sobre o tema.

Nessa época de fim e início de ano o que não faltam são contas para pagar. Como é que as famílias podem se organizar para entrarem em 2018 mais preparadas financeiramente? Teoricamente não deveria haver segredo porque o governo deu uma bela ajuda lá atrás, na consolidação das leis do trabalho, quando foi criada a figura do 13º salário. Na época da criação, foi tirado um pedaço do salário de cada mês para fazer esse pagamento no fim do ano, para ajudar as famílias que não sabiam se organizar para lidar com essa concentração de gastos típica do fim e começo do ano. Porém, o brasileiro se habitou, com a chegada do 13º, a ir às compras. As pessoas compram não apenas o que precisam, mas o que não conseguiam comprar nos meses anteriores, pelo fato de comprar ser algo raro nessas famílias. Essa imersão nas compras faz com que se compre mais do que seria o ideal e com isso criou-se o hábito da compra parcelada. O brasileiro compra muito em dezembro e falta dinheiro para os gastos de janeiro, então ele acaba parcelando essas contas e as dos meses seguintes. Essas dívidas vão se acumulando ao longo do ano e a pessoa não vê a hora de chegar o décimo terceiro do ano seguinte para se livrar das dívidas, o que não é errado.  Mas as pessoas deveriam guardar esse dinheiro para os grandes gastos de janeiro, e assim, ter um ano seguinte mais leve e com menos prestações. Se as pessoas percebessem que quebrar esse ciclo de endividamento uma vez seria a solução do problema, nós teríamos uma economia muito mais robusta. É preciso um natal criativo das famílias, que se gaste menos, para que elas comecem o ano seguinte menos engessadas no parcelamento e terminem o próximo ano menos endividadas.

Em uma família, essas escolhas relacionadas ao planejamento financeiro acontecem, geralmente, entre o casal. Quais os benefícios que um casal que realmente tira um tempo para falar sobre as finanças tem? Atualmente, cerca de 10% dos casais conversam de maneira coesa sobre as suas finanças, unindo seus planos. Existem alguns casais que só pensam em família. Tudo é para a nossa casa, para os nossos filhos, para o nosso futuro… Esse casal ignora que tem duas pessoas diferentes convivendo juntas e que talvez na construção da família a liberdade de cada um foi “esvaziada”. Outro tipo de casal é o que cada um cuida da sua vida financeira, cada um gasta com as suas coisas e esse casal nunca consegue conversar sobre nós. Esses são os dois erros extremos e, mesmo que funcione por um tempo, lá no futuro vão resultar em percepções de fracasso.
Então é preciso um equilíbrio entre o eu e o nós dentro da relação financeira?
N
a verdade o relacionamento é composto por três elementos: eu, você e nós. E o bom planejamento é aquele que quando se fala de fazer planos não é o que eu quero ou o que você quer, ou o que nós queremos. É o que todos esses três querem! Temos que construir um futuro, mas não podemos nos esquecer do seu sonho viajar, por exemplo. É importante não ignorar as vontades dentro de um relacionamento para que ninguém se sinta prejudicado. Os casais inteligentes enriquecem juntos!

 

Você usa muito uma frase que diz que “enriquecer é uma questão de escolha”. Que escolhas são essas? Quando se fala que enriquecer é uma questão de escolha, podemos falar de uma fortuna de R$2 milhões, ou de se ter uma vida generosa em termos de consumo, com tranquilidade. A escolha que tem que ser feita para entender qual é a sua necessidade é o ponto mais difícil de todo o processo, pois a pessoa precisa entender o que é importante para ela. Se você faz o que os outros acham que é importante, você não faz o que te torna feliz, você é uma pessoa frustrada, triste, ansiosa, que está sempre correndo atrás de dinheiro para alcançar aquilo que não está sendo alcançado. Por isso, criamos um orçamento doméstico que tem um ranking de prioridades para enumerar de 1 a 50 a prioridade dos gastos. Para mim lazer e qualidade de vida tem que estar no topo, bem acima de plano de saúde, casa e carro. Quando tenho que ajustar o orçamento, tenho que entender que o que está no topo é mais importante e a última coisa a ser mexida. Então, esse “ser uma questão de escolha” resulta em convidar a pessoa a ter uma vida mais simples quando se fala de grandes gastos, para que essa vida seja mais rica em experiências e construção de sonhos. Ser mais simples não é tirar alguma coisa da vida. Se elas sabem que podem ter um carro de R$80 mil, por que não ter um de R$60 mil? Temos que inverter as prioridades para entender que riqueza não é só o saldo que eu tenho no banco. São as alegrias que eu tenho na vida e que quanto mais alegrias eu tenho mais energia eu vou ter para correr atrás de um trabalho desafiador, de mudanças na minha vida e, provavelmente, vou conseguir mais dinheiro nesse processo.

 

Você também diz que é difícil enriquecer através de um trabalho assalariado. Mas como uma pessoa que quer dar um primeiro passo para tentar ganhar mais dinheiro deve agir? Não tenho nada contra o trabalho, toda a pessoa que não nasce em berço de outro tem que agradecer a Deus pela oportunidade de trabalho. Ele não é um fim na sua vida, é um meio para alcançar uma liberdade mais para frente. O trabalhador tem que entender que a limitação que ele tem na construção de riquezas é resultado de uma educação que foi focada em garantir para ele um bom desempenho no vestibular e um bom desempenho no trabalho formal. É responsabilidade de cada um perceber que em algum momento da carreira já não vale a pena investir tanto nela. Nessa hora é preciso começar a buscar uma educação para um projeto empreendedor, alguma coisa que complemente a renda. Enquanto eu estou empregado, posso montar um comércio eletrônico, fazer vendas diretas, fazer transporte por aplicativo… Vou perceber em algum momento que ser empreendedor é ser empregado de mim mesmo. E eu vou querer um momento de calma nessa rotina. Então viria uma terceira etapa que é o aprendizado para se tornar investidor.

 

Que outras opções, além do empreendedorismo, seriam alternativas seguras para investir? Todas as modalidades de renda fixa no Brasil são seguras, ou, as que são menos seguras, são protegidas, e isso é uma informação importante para que a pessoa invista com segurança. O segredo de um bom investimento não é ter a dica em um momento oportuno, mas ter a informação quando essa dica chega para você. Um bom investidor é uma pessoa extremamente curiosa, que busca pessoas que possam responder suas dúvidas e agregar informações.

 



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