Histórias de Carazinho guardadas dentro de casa


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24 de janeiro de 2018

Tempo de Leitura: 3 minutos

Histórias de Carazinho guardadas dentro de casa


A história de uma cidade é construída pelas pessoas que nela vivem. Por isso, neste aniversário de Carazinho, resolvemos te contar um pouco sobre um de seus moradores – que guarda com muito carinho as histórias que viu e viveu na cidade

 

Em uma casa que resistiu entre prédios, na Rua Barão de Antonina, em Carazinho, mora uma senhora que muito fez e muito ainda faz por sua cidade. Provavelmente, ela não vai gostar de eu ter me referido a ela como “senhora” nesse texto, pois apesar dos 80 anos de vida, Maria Beaty Ott é mais curiosa e bem-humorada do que muitos jovens.

O motivo da visita em sua casa era conhecer a sua hemeroteca. Se você não sabe o que essa palavra significa, pode ficar tranquilo, pois ela mesma, que é formada em Letras e foi durante muitos anos professora em Carazinho, descobriu essa palavra há poucos meses. Uma hemeroteca é uma coleção de jornais e revistas, que podem ser encontradas em bibliotecas ou na casa de pessoas que gostam de guardar histórias de vidas, como é o caso de Beaty. Ela conta que foi seu pai quem começou a guardar revistas e jornais, principalmente, as publicações locais. Seu pai, o também professor Antônio Jorge Ott Filho, muito lutou pela educação em nossa cidade – e pelo mesmo caminho trilhou Beaty.

Formada em Pedagogia, pela Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre, atuou como professora fiscal da Secretaria de Educação e Cultura, em Carazinho, lecionando várias disciplinas da Escola Nossa Senhora da Glória, e, logo após, estudou Letras com ênfase em língua inglesa na Universidade de Passo Fundo. Sua trajetória pela educação fez com que ela se tornasse a primeira diretora da Escola Sorg e que liderasse, na época, o movimento “Queremos Faculdade”, em Carazinho, chegando a tornar-se Vice-Presidente da Associação Carazinhense Pró Ensino Superior, de 1973 a 1977. Ela guarda com carinho o que diz ser a maior honraria de sua vida: a placa que leva o seu nome em forma de homenagem, como uma das professoras fundadoras da Universidade de Passo Fundo, por sua ajuda na construção dessa entidade.

A sua hemeroteca, na verdade, faz parte de um mini-museu, que conta com outras 10 tecas, tendo espaços dedicados, até mesmo, para publicações em língua inglesa e alemã. Ela começou a reunir tudo o que havia guardado pelos cantos da casa, para organizar no espaço onde sua mãe costumava costurar, quando ela e suas outras três irmãs, todas Marias, ainda eram jovens. Segundo Beaty, algumas pessoas da família queriam se desfazer de tudo o que seu pai havia começado a guardar, mas ela não deixou que ninguém chegasse perto de todos aqueles tesouros. “Quando eu era criança não podia mexer em algumas coisas, mas hoje finalmente tenho tudo isso, que agora é meu”, conta. Ao dizer isso, Beaty mostrou que ao lado da sua hemeroteca havia uma frase, escrita em alemão, guardada em um pequeno quadrinho de moldura preta, que ela leu e traduziu. “O homem precisa de um lugarzinho, por menor que seja, do qual ele possa dizer ‘olha aqui, isso é meu’. Aqui eu vivo, aqui eu amo, aqui eu descanso, aqui é meu lar e aqui eu estou em casa”. Para ela, essa frase resume o sentimento que tem sobre o lugar em que mora, e onde guardou todas as suas relíquias.

Para chegar até o seu acervo, é preciso descer uma escada, que tem a companhia de um corrimão feito por ela mesma. Beaty pediu para não reparar na bagunça, pois ela ainda está organizando tudo o que tem guardado. Na sala de casa e na biblioteca estão ainda muitas fotos e recortes de jornais e revistas que estão esperando para serem levados para a sua hemeroteca, mas, no espaço que já está montado, o que não faltam são histórias. Há exemplares do jornal “O Planalto” e “O Noticioso”, que circulavam em Carazinho há muitos anos; exemplares do jornal “Diário da Manhã”, que já tem suas páginas amareladas pelo tempo; e até mesmo recortes da nossa Revista.

Em outro canto, ao lado da hemeroteca, Beaty guarda em uma mesinha livros e outros documentos que falam somente sobre Carazinho. Ali é o seu cantinho dedicado à cidade, que guarda muito do que já foi escrito e falado sobre o município que hoje completa 87 anos. Além de guardar tanta história, Beaty também divide o seu espaço de relíquias com uma brinquedoteca. Ela conta que quando criança não tinha brinquedos – a felicidade dos presentes vinha dos livros que, por vezes, ganhava do pai. Como pedagoga (e também como madrinha de 22 afilhados!), ela começou a reunir diversos brinquedos e criou esse espaço em sua casa para oferecer uma atividade diferente às crianças. Sua casa, de número 171, na Rua Barão de Antonina, está sempre à disposição das crianças – e também dos adultos que queiram visitar e conhecer sua hemeroteca.



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