Não se fazem mais avós como antigamente?


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25 de julho de 2017

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Não se fazem mais avós como antigamente?


Os tempos mudaram, logo, nada mais justo do que os avós acompanharem esta mudança e largarem qualquer estereótipo que diga respeito a eles

De uns tempos para cá tem sido cada vez mais difícil estabelecer um padrão de imagem e comportamento para os avôs e avós. É que aquele velho estereótipo de um casalzinho de cabelos brancos, que usa roupas simples, e passa o dia sentado em suas cadeiras de balanço não se aplica mais a realidade. Hoje os avós estão aproveitando cada vez mais o seu tempo das mais variadas formas. Muitos continuam trabalhando por prazer, outros estão sempre viajando. Alguns não dispensam as atividades da academia e os encontros com seu grupo de amigos. Os fios brancos não tomam mais conta dos cabelos e ninguém diria que as roupas que usam são “de vovó”. Raramente eles têm tempo disponível para fazer doces ou comidinhas especiais para os netos, é mais provável que os biscoitinhos venham prontos da padaria.

Segundo a professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo, Marilene Rodrigues Portella, o mundo passou por muitas mudanças e homens e mulheres, avôs e avós, passaram por várias transformações desde a descoberta de novas tecnologias de informação e comunicação, do crescimento global, e das facilidades que surgiram junto a vida moderna. “O modelo de vovó vai acompanhar a passagem do tempo. Cada contexto, cada família, cada sociedade vai construir o modelo de vovó de acordo com as transformações e valores vivenciados. Não obstante, as relações entre avós e netos refletem o vínculo e o amor construídos ou a ausência destes”, explica Marilene.

Os avós de hoje tem muitas diferenças em relação aos avós de 50, 60 anos atrás e foram muitos os fatores que contribuíram para que essas mudanças acontecessem. Para a pesquisadora, três fatores se destacam como sendo as principais causas dessa mudança de comportamento da terceira idade. A principal delas é a transição demográfica, o fenômeno do envelhecimento populacional, pois nunca em outros tempos vivemos com tantos idosos. “Anteriormente, os avós morriam precocemente, hoje temos muitas pessoas que chegam a conhecer e conviver com seus bisavós”, pontua. O segundo fator tem a ver com o avanço da tecnologia e, consequentemente, nos recursos da área da saúde que possibilitam essa longevidade. “Esses recursos favoreceram o tratamento para inúmeras doenças e agravos, permitindo que as pessoas idosas usufruíssem o tempo livre de acordo com suas possibilidades. Desse modo, a medida que as pessoas passam a viver mais, o comportamento também muda”, ressalta Marilene.

O terceiro fator que provocou essas mudanças é atribuído a convivência nos grupos de terceira idade, um espaço onde o idoso é o protagonista. “Os chamados ‘programas de terceira idade’ oferecem diferentes propostas para lazer e ocupação do tempo livre; são espaços nos quais o convívio e a interação com e entre os idosos permite a construção de laços de amizades e novas descobertas. Na pesquisa, no meu doutorado, em 2002, o qual foi objeto de estudo os grupos de terceira, constatei que a pessoa que passava a frequentar os grupos se transformava. Muitas comentavam que procuraram os grupos com o objetivo de conhecer novas pessoas, pois se sentiam muito sozinhas e que a convivência, os bailes e as viagens realizadas com o grupo provocaram mudanças significativas, sobretudo na questão da autoestima”, ressalta a pesquisadora.

 

Do tricô para o Instagram

Há 50 anos as mulheres viviam dentro do lar, com suas atividades restritas ao trabalho doméstico. As famílias eram numerosas e as mulheres tinham muitos filhos. O rádio, o telégrafo e a carta eram os meios de comunicação mais acessíveis na época. Naqueles tempos as avós se ocupavam em ensinar às netas o bordado, o crochê, as receitas de comidas e doces para que as meninas se tornassem moças e mulheres prendadas, enquanto os avôs mostravam aos netos o mundo dos “homens”. Hoje é o avô ou avó que solicita a ajuda dos netos para achar alguma coisa no computador ou no celular. Tiram fotos, postam em suas redes sociais e se comunicam com os netos pelos aplicativos de mensagem. “Não é incomum vermos o avô ou a avó falar para família que no próximo domingo vai apresentar seu namorado (a), o qual conheceu no baile da terceira idade. As diferenças são inúmeras e variadas, os tempos mudaram e muito”, considera Marilene.

No Instagram uma avó americana de 88 anos tem ganhado cada dia mais seguidores por causa de suas postagens cheias de estilo e irreverência, que mostram looks coloridos e cheios de tendências. Helen Winkle, mais conhecida hoje por Baddie Winkle, já soma 3,1 milhões de seguidores e foi apontada pela revista Forbes como uma das pessoas mais influentes do Instagram. O marido de Baddie morreu em um acidente de carro quando os dois comemoravam 35 anos de casados. Ela também perdeu um filho para o câncer e passou por um longo período de luto. Toda a sua história no Instagram começou com a ajuda de uma bisneta, que a incentivou a postar seus looks “paz e amor” nas redes. A brincadeira acabou virando um sucesso e hoje Baddie é um exemplo de como levar a vida numa boa.



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