Profissão: Professor


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15 de outubro de 2017

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Profissão: Professor


Entre as grandes dificuldades que desanimam e as pequenas alegrias que motivam, os professores seguem a sua caminhada de transformação social, pois sabem que é possível mudar as pessoas e o mundo através da educação

O professor entra em uma sala e se depara com uma turma de 30 ou 40 alunos. Ele precisa vencer o conteúdo, mas, para isso, precisa ganhar a atenção de todos, competindo com celulares e conversas paralelas. As atividades para realizar no período de aula são preparadas fora das 20 ou mais horas semanais para a qual é pago. Nas escolas da cidade ouvimos sobre a falta de respeito que os alunos têm com os professores; no Estado convivemos com professores que recebem salários parcelados ou atrasados; no país vemos professores sendo agredidos por alunos.

Além disso, os desafios dos professores também têm a ver com investimentos constantes em livros, tecnologias, formação de atualização (Cursos, Congressos, Palestras). Os professores devem ainda estar aptos a lidar com a comunidade social, com a heterogeneidade de turmas, com a desmotivação pelo conhecimento lógico e produtivo, com relacionamentos familiares, e outras questões que envolvem a ética e políticas sociais. O contexto atual em que os professores estão inseridos não é o mais favorável, mas, ainda assim, para aqueles que escolheram a docência como sua profissão, essas e outras adversidades podem ser superadas, pois fazem parte da sua missão de ensinar.

A professora e assessora pedagógica da 7ª Coordenadoria Regional de Educação – CRE, Claudia Aresi, trabalhou por alguns anos na iniciativa privada até que finalmente encontrou o seu caminho no magistério. Hoje atuando como professora de geografia e história no Neeja, ela diz que não se arrepende da sua escolha profissional e não consegue se ver fazendo uma coisa diferente. “Às vezes a gente até pensa ‘ah, vamos largar essa profissão e fazer outra coisa, já que não é valorizada’, mas quando a gente gosta do que faz e se realiza, acabamos superando os obstáculos e buscando novos caminhos dentro da profissão”, garante.

O coordenador da 7ª CRE, que assumiu a função no mês de setembro, Elton Luiz D’Marchi, destaca que, apesar das dificuldades, os professores abraçam a bandeira da educação. “Conversamos com professores de todas as áreas e percebemos que eles têm uma preocupação muito grande com os seus alunos. Eles fazem de tudo para que os alunos tenham uma aula de qualidade”, enfatiza. A 7ª CRE é responsável por 123 escolas da região, 2889 professores e 820 funcionários.

Para a Diretora Titular de Educação, Formação, Cultura e Comunicação Social do Sinpro – Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS e também professora, Lisene Maroso, a profissão de Professor é uma forma de viver em contato permanente com mudanças. É um trabalho que exige capacidade intelectual diversificada e ajustável a cada momento, seja social ou didático. É ter a oportunidade de formar pessoas capazes e determinadas a conquistas pessoais, sociais e éticas – a principal motivação que faz com que os professores, a cada dia, entrem nas salas de aula e enfrentem todos os desafios que surgem ao longo do caminho. “Ser professor é como escrever uma folha de um livro ano a ano, delinear, e depois poder em silêncio se orgulhar de ter uma Obra Prima. Assim vejo cada aluno, na área que ele escolher para fazer a sua história”, complementa.

OLHO: “Conversamos com professores de todas as áreas e percebemos que eles têm uma preocupação muito grande com os seus alunos. Eles fazem de tudo para que os alunos tenham uma aula de qualidade” – Elton Luiz D’Marchi, coordenador da 7ª CRE

A profissão que forma todas as profissões

Não importa quem você é, muitos professores ajudaram a construir o que você se tornou. Não importa também, se as aulas que você teve foram acompanhadas de um quadro de giz ou de atividades em computadores – o papel principal dessa construção de conhecimento continua sempre sendo o professor. “O professor evoluiu, temos conhecimento de meios tecnológicos, trabalhamos com diversos tipos de mídias e multimeios. Nossa metodologia é diferente de anos atrás, os estudantes também têm novos anseios e questionamentos. Os prédios escolares, as salas de aula podem ser as mesmas, mas o professor não, basta observar os projetos maravilhosos que as instituições apresentam durante o ano letivo. O contexto social mudou, e nós professores mudamos também”, ressalta Lisene.

Todos nós temos um professor que marcou a nossa vida. Seja porque gostava da matéria, da aula, das conversas ou até mesmo dos conselhos – pois muitas vezes são os professores que nos incentivam a fazer algo de que gostamos.

“A relevância dos professores em nossas vidas, infelizmente, só é reconhecida tardiamente, no momento em que as coisas que ouvíamos em sala de aula começam a fazer sentido e passamos a usar estes ensinamentos em nossas profissões ou no dia a dia. Muito obrigada ao meu querido professor de Ciências, Darcísio Rambo, lembrando das suas aulas, fica muito mais fácil cozinhar”.
– Lisete Biazi, Chef de cozinha

 

 

“Carmo Lammel foi um professor que marcou minha vida. Ele era professor de Educação Física e treinador de futebol no IE. Sempre transmitiu seriedade, apoio, mensagens positivas, conselhos e exemplos. Foi muito importante na minha vida”.
– Luciano Azevedo, Prefeito de Passo Fundo

 

 

 

“Tive vários professores fantásticos, mas uma em especial, foi minha professora da primeira ‘série’, com a qual tive o prazer de depois trabalhar como colega, a ‘prô Sinara’, devido ao encantamento de suas aulas, decidi também ser professora. Escolhi ser professora porque o magistério é uma das atividades mais bonitas, mais apaixonantes, mais gratificantes que existem e isso era o que ela transmitia em suas aulas. Árdua, sem dúvida, mas indescritivelmente bela. Mentiria se negasse que sou, e continuarei sendo, idealista e que acredito com toda firmeza na capacidade de transformação social pela educação”.
– Daiane Henrich, proprietária da Escola Bom Pastor

 

Mesmo que os ex-alunos guardem seus professores com muito carinho na memória a profissão ainda não recebe o reconhecimento que merece. Segundo o Coordenador da 7ª CRE, os professores ainda precisam receber mais valorização da comunidade e, principalmente, dos seus governantes. “Os professores deveriam ter um reajuste no salário e serem mais valorizados como profissionais através de cursos para que tenham mais qualificação para dar aulas cada vez melhores aos seus alunos”, destaca.

Na rede particular existe a Convenção Coletiva de Trabalho, um conjunto de normas que regulamentam a remuneração e algumas condições de trabalho dos professores que atuam na rede privada e visa assegurar os direitos conquistados pela classe, e que, a cada ano, é aprovada em Assembleia pelos professores e firmada pelo SINPRO-RS e SINEPE-RS entre outras patronais. “O SINPRO/RS fez muitas conquistas nestes anos, mas, devemos ficar atentos a nossa valorização como profissionais, principalmente com as novas mudanças trabalhistas que vão ocorrer em 2017. Ter uma representação sindical atuante neste momento é de grande importância para assegurar nossos direitos e condições de trabalho para os próximos anos”, destaca Lisene.

Faltam professores

Segundo dados da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul, em 2016, dos 6,3 mil afastamentos de professores, 2,9 mil decorreram de aposentadorias, 86 de mortes e 3,3 mil de exonerações. A Secretaria de Modernização Administrativa e Recursos Humanos projetou que, para 2017, esse número pode ser maior do que 4.140. O CPERS – Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul – estima que exista um déficit de cerca de 8 mil professores na rede pública do Rio Grande do Sul.

O Coordenador da 7ª CRE avalia que muitos professores da região são mais velhos e que é difícil encontrar jovens profissionais. Segundo uma pesquisa do Inep/MEC de 2015, dos mais de 8.027.297 milhões de jovens universitários, apenas 18,3% fazem licenciatura. Segundo o Ministério da Educação, apenas 2% dos jovens que saem do ensino médio escolhem ser professores e entre os motivos principais motivos desse desinteresse estão a falta de valorização, de bons salários e de um plano de carreira.

O sociólogo, professor e Doutor em Educação Ivan Dourado acredita que o grande incentivo para que os jovens optem por uma carreira de professor tenha que vir dos pais. “As pessoas dizem que ‘precisamos de educação para mudar o país’ e que ‘a educação é a base de tudo’, mas quando o filho dessas pessoas deseja ser professor elas perguntam se o filho tem certeza disso, se não prefere atuar em outra área. Os pais normalmente não levam em conta que esse desejo do jovem muitas vezes é uma vontade de transformação da realidade e fecham as portas para ele”, ressalta.

Para Ivan ser professor é uma escolha de convívio humano, de educar outros seres humanos. Ele, que também trabalha com a formação de professores, diz que é preciso escutar os alunos para aprender com eles o perfil de professor que cada um pode descobrir em si mesmo. “É preciso saber as coisas que são construídas com o objetivo de humanizar e permitir reflexão não são necessariamente o tempo todo felizes. Há momentos de angustia, de tristeza, de frustração, mas isso faz parte do convívio humano. Para pensarmos o encorajamento desse aluno, precisamos pensar que se ele gosta da humanidade e de conviver com pessoas, ele tem que levar para dentro da sala de aula o que ele tem de melhor, os problemas, os desgastes, não seria a sala de aula o espaço para trazer essas questões e sim o que ele tem de mais legal, de mais humano para compartilhar com os outros”, finaliza.



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