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Como gerenciar o uso de tecnologia em família


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9 de janeiro de 2025

Tempo de Leitura: 8 minutos

Como gerenciar o uso de tecnologia em família


Em seu consultório, a psicóloga Rosiane Dutra Martins tem percebido cada vez mais a demanda das famílias para lidar com situações que envolvem o uso excessivo das tecnologias, incluindo celulares, tablets, computadores e jogos eletrônicos. Aqui, ela reflete sobre esse uso e destaca o importante papel que os pais devem cumprir para dar exemplo aos filhos

Quais são os sinais de que crianças e adolescentes podem estar passando tempo demais em frente às telas? Os sinais mais comuns de dependência de telas e tecnologia, sendo o termo “tecnologia” referência para qualquer atividade na internet, realizada em um computador, laptop, tablet, console de jogos ou qualquer outro dispositivo digital, visam identificar alterações comportamentais e de humor em que o uso da tecnologia por uma criança ou adolescente esteja interferindo em suas atividades diárias normais, como fazer o dever da escola, sua higiene pessoal, fazer as refeições em família, praticar esportes entre outras. Desta maneira, é importante em um primeiro momento estar atento aos seguintes sinais:

– A criança ou adolescente passa muito tempo envolvido com a tecnologia;

– Demonstra preocupação com a tecnologia;

– Se afasta de atividades sociais, preferindo usar dispositivos digitais;

– Sacrifica horas de sono necessário para ficar online, causando cansaço, irritação devido ao uso excessivo da tecnologia;

– Se queixa de tédio quando não está utilizando dispositivos digitais;

– A criança se afasta de atividades que costumava gostar, buscando apenas atividades nos dispositivos digitais;

– O desempenho escolar da criança está comprometido porque o seu foco está na tecnologia;

– A criança já mentiu ou escondeu a extensão de seu uso de tecnologia;

– A criança ficou com raiva ou desobedeceu quando você estabeleceu limites de tempo para o uso de tecnologia;

Se a criança apresentar três ou mais desses sinais, é recomendável buscar avaliação profissional para entender o contexto e a extensão do problema, bem como a necessidade de outros testes, levando-se em consideração o contexto da criança, de como a tecnologia e os dispositivos são usados em casa e na escola.

De que maneira o uso excessivo de telas pode impactar o desenvolvimento das crianças e adolescentes? O tempo gasto com telas aumentou ao longo dos anos, principalmente como forma de entreter crianças e adolescentes, substituindo com o mundo virtual as interações sociais e momentos de convívio importantes para o desenvolvimento. Quando nós pais permitimos que nossos filhos assistam a vídeos em celulares ou tablets, estamos ativando as vias de processamento cerebral passivas. Essa atividade passiva ocupa um tempo que poderia ser mais bem aproveitado com atividades mais estimulantes, que promovem o desenvolvimento da coordenação motora e outras habilidades essenciais nessa fase da vida. A exposição precoce a telas está ligada a atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem, bem como a dificuldades no desenvolvimento motor e emocional.

No entanto, a questão vai além da primeira infância. Mesmo crianças um pouco mais velhas precisam de um acesso limitado e supervisionado às telas. Quando um adolescente compartilha conteúdo em plataformas digitais por exemplo e recebe interações como curtidas, comentários e compartilhamentos, isso ativa os circuitos cerebrais ligados à sensação de prazer e recompensa. Esse estímulo pode levar à busca cada vez maior por essa gratificação, criando um ciclo de recompensa e reforço. Atualmente, especialistas concordam que é possível desenvolver dependência não apenas de substâncias químicas, mas também de comportamentos, como o uso excessivo de dispositivos eletrônicos. É notável que a maioria dos jovens atualmente desfrutam do acesso a internet e smartphones, dedicando uma parcela significativa de seu tempo a jogos, redes sociais e entretenimento. No entanto, é crucial ressaltar que o uso excessivo e prematuro dessas telas pode acarretar consequências negativas, tais como dependência digital, mudanças no comportamento, distúrbios do sono e impactos na saúde mental, como ansiedade e depressão.

Existem evidências de que um tempo excessivo de uso das telas eletrônicas pode ter efeitos prejudiciais para saúde física, mental e social?
Sim, diversos estudos têm se dedicado a destacar os impactos e desdobramentos do uso abusivo de telas. A exposição à luz emitida por esses dispositivos, por exemplo, pode afetar a produção do hormônio melatonina, crucial para o sono, especialmente em jovens que necessitam de 9 a 10 horas de descanso diariamente. Além disso, o uso excessivo de telas pode resultar em sedentarismo, aumentando o risco de excesso de peso e obesidade. Por outro lado, a busca por um padrão corporal idealizado e o acesso a conteúdos relacionados à perda de peso podem contribuir para o surgimento de distúrbios alimentares. A utilização frequente de fones de ouvido em volume elevado também pode acarretar problemas auditivos, assim como a exposição prolongada às telas está associada ao desenvolvimento de miopia em crianças e adolescentes. No que diz respeito aos aspectos psicológicos e comportamentais, o uso excessivo de telas está ligado ao aumento de transtornos como ansiedade, depressão, agressividade e distúrbios do sono, impactando diretamente o bem-estar emocional e comportamental das crianças. Em relação às interações sociais e relações familiares, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode resultar em isolamento social e na redução das oportunidades de interação face a face, prejudicando o desenvolvimento de habilidades interpessoais e enfraquecendo os laços familiares.

Qual a importância do exemplo dos pais em relação ao uso de telas? Como o comportamento deles impacta o dos filhos?
Os pais desempenham um papel crucial na orientação e correção dos danos causados pelo uso inadequado da tecnologia. É essencial que eles sirvam de modelo no processo de educação dos filhos, especialmente quando se trata de ensinar aos pequenos e aos adolescentes a importância de usar a tecnologia de forma responsável. Alguns estudos enfatizam a importância dos pais inclusive nessa relação com a tecnologia, demonstrando que adolescentes cujos seus pais são usuários dependentes da tecnologia estão mais suscetíveis a dependência. Os estilos parentais também demonstram relação com a prevalência da dependência tecnológica entre os adolescentes, revelando que a dependência tem uma forte relação com estilos parentais permissivos e autoritários. Desta maneira é relevante ressaltar a importância dos pais procurarem também uma orientação parental com um profissional especializado, por que os pais também podem ter dificuldade de identificar a sua própria forma de utilização e sendo esta utilização inadequada, pode ser um fator preditivo para utilização abusiva e inadequada dos filhos, podendo levar a dependência.

Quais estratégias os pais podem adotar para reduzir o uso de telas na própria rotina e na dos filhos?
Os pais são os grandes responsáveis pelo gerenciamento e educação dos filhos e como tudo, o problema está no excesso e na falta de controle adequado. Inicialmente é preciso entender de fato os prós e contras que estão relacionados a tecnologia. O avanço da tecnologia vem impactando a sociedade de forma inegável e vem revolucionando a maneira como as pessoas se comunicam, socializam, buscam e trocam informações e adquirem conhecimento. Os benefícios que a internet nos proporciona por exemplo, mudou nossa maneira de viver, é possível pesquisarmos, fazermos compras, manter contato instantaneamente com a família e amigos, fazer novas amizades ou relacionamentos, tornando assim difícil diferenciar o que é saudável ou não. Por isso, procurar entender o contexto relacionado a tecnologia é o primeiro passo para encontrar equilíbrio nesta dinâmica entre o que é ou não saudável. Uma estratégia que posso citar, é estabelecer combinações de acordo com o contexto e características de cada família, mas é fundamental que sejam claras, objetivas e coerentes com os valores da família, ou seja, se a combinação é não usar o telefone durante as refeições, isso deve se aplicar também aos pais, quando não existe o exemplo dos pais, as regras e as restrições aplicadas não funcionam muito bem, por serem percebidas pelos filhos como incoerentes.

Com as férias chegando, como os pais podem incentivar os filhos a explorarem atividades diferentes, fora das telas?
Com a pausa nas rotinas escolares, é fácil para as crianças gravitarem em torno das telas para se divertir. Embora a mídia digital possa oferecer benefícios educacionais e recreativos, equilibrar o tempo de tela com outras atividades, incluindo o sono, é crucial para desenvolver e manter a saúde física, mental e socioemocional de crianças e adolescentes. Por isso, os pais podem incentivar os filhos trazendo de volta o tédio! Sim, apesar da nossa aversão cultural ao tédio, esse seja talvez o desafio mais difícil de superar na procura de alternativas saudáveis. Adultos e crianças evitam o tédio tendo telas à disposição praticamente todas as horas em que estão acordados. Mas pesquisas indicam que o tédio pode ser um catalisador para a criatividade, para resolução de problemas e a autodescoberta. Quando as crianças estão entediadas, é mais provável que se envolvam em brincadeiras criativas, explorem novos interesses e desenvolvam independência. Os benefícios do tédio incluem:

Aumento da criatividade: Sem estimulação constante, as crianças e os adolescentes têm maior probabilidade de criar o seu próprio entretenimento, levando a brincadeiras imaginativas.

Habilidades de resolução de problemas: O tédio leva as crianças a encontrar soluções para seus próprios problemas, melhorando suas habilidades de pensamento crítico.

Autodescoberta: O tempo sem atividades estruturadas permite que crianças e adolescentes explorem seus interesses e paixões de forma independente.

Resiliência mental: Aprender a lidar com o tédio ajuda crianças e adolescentes a desenvolver paciência e regulação emocional.

É no tédio que as ideias borbulham, a criatividade se expande e a inovação prospera porque proporciona um vácuo desconfortável, incitando-nos a preenchê-lo com novas ideias, imagens e sons. Portanto, neste verão, quando seu filho lhe disser que está entediado, resista à tentação de entregar uma tela ou de desistir do acordo de tempo de tela da família. Você pode ter certeza de que o tédio os ajudará, e não os prejudicará, não importa o quão alto eles protestem. 

Qual seria um limite saudável para o uso de telas para crianças, especialmente em períodos de descanso? A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda limites de tempo de tela de acordo com cada faixa etária conforme podemos conferir na tabela a seguir:

IdadeTempo recomendado
Menores de 2 anosNão deve ser utilizado
Entre 2 e 5 anosAté uma hora por dia
Entre 6 e 10 anosAté duas horas por dia
Entre 11 e 18 anosAté três horas por dia
Todas as faixas etárias (a partir de 2 anos de idade para cima)

 

Evitar uso de telas durante as refeições e de uma a duas horas antes de dormir

 

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2024.

Respeitar o tempo recomendado de uso de telas para cada faixa etária é importante mesmo nas férias, o ideal é que os pais estabeleçam acordos com os filhos em relação ao tempo de uso, intercalando com atividades que visem o desenvolvimento das crianças e adolescentes. As crianças menores de 2 anos aprendem melhor por meio de atividades práticas e interações face a face. É importante incentivar brincadeiras interativas, movimento físico, brincadeiras sensoriais e interação com os cuidadores, como ler livros, brincar com brinquedos e explorar ao ar livre. Para maximizar o desenvolvimento das crianças de 3 a 5 anos, é essencial promover atividades interativas e práticas, dando preferência a brincadeiras ativas, como jogos ao ar livre, atividades artísticas e práticas lúdicas, em vez de tempo excessivo diante de telas eletrônicas. Para crianças de 6 a 10 anos, é importante estabelecer uma rotina diária, por isso criar um cronograma durante os meses de verão, sem a estrutura de compromissos e atividades do ano letivo mas que gere um senso de rotina e inclua tempo para brincadeiras ao ar livre, leitura, atividades familiares e uso de tela educativa. Já os adolescentes precisam ser encorajados a utilizar a tecnologia de forma consciente, encontrando um equilíbrio saudável entre o tempo de tela, atividades físicas, interações sociais e hobbies.

Como os pais podem estabelecer regras de uso de telas de forma positiva e sem gerar resistência?
Para lidar com os desafios da era digital, o afeto, a atenção e o diálogo familiar são extremamente importantes para lidar com a questão das telas e promover uma convivência equilibrada e segura com a tecnologia. Ser controlador, distante e não empático faz com que os filhos tenham mais risco de desenvolver dependência dos dispositivos digitais. Por isso, os limites devem ser administrados com leveza, é preciso que os pais e os filhos se sintam próximos afetivamente para que seja obtido êxito tanto na prevenção quanto no tratamento em casos de dependência. Explicar desde a infância a razão de se impor limites, pode ser eficaz a longo prazo, as combinações, restrições não devem ser percebidas como castigo arbitrário, e sim como uma medida benéfica ao seu desenvolvimento.

Outro ponto importante e que ajuda a diminuir a resistência é envolver o seu filho na definição de regras sobre o uso das telas. Isso pode incluir, decidir horários específicos do dia para uso da tela, chegar a um acordo sobre um tempo máximo diário de tela, especialmente durante os meses de verão, fins de semana e férias e decidir quais tipos de conteúdo são permitidos. Estabelecer consequências também é importante, chegar a um acordo sobre as consequências razoáveis ​​para o não cumprimento das expectativas acordadas em conjunto, certificando-se de que essas consequências sejam justas e aplicadas de forma consistente. Incentive a contribuição, peça a opinião de seu filho sobre quais atividades ele gosta e como ele pode equilibrá-las com o tempo de tela, e compartilhe seu entusiasmo por seus hobbies e interesses off-line. Revise periodicamente as regras de tempo de tela e faça os ajustes necessários. Isso garante que as diretrizes permaneçam relevantes e eficazes à medida que seu filho cresce e suas necessidades mudam. E por fim, demonstre o uso equilibrado da tela em sua própria vida e considere adicionar seu próprio uso da tela ao acordo que você chegar com seu filho. É mais provável que as crianças sigam as regras se virem os seus cuidadores envolvidos em práticas semelhantes.

Rosiane Dutra Martins
Psicóloga Cognitivo Comportamental
Psicoterapia e avaliação psicológica
Site: rosianedutramartinspsicologa.com
Instagram: @rosianedutramartins
Telefone: 54 9 9996-9141
Endereço: Quinze de Novembro, 961- sala 1104, Centro – Passo Fundo – RS

 



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