Convivendo com a Doença de Parkinson


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4 de maio de 2020

Tempo de Leitura: 3 minutos

Convivendo com a Doença de Parkinson


O dia 11 de abril marcou o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson. A principal ação dessa conscientização é levar informações para a sociedade, para que consigamos entender e conviver com essa doença que ainda não tem cura, mas que possui tratamento. Quem nos ajuda a esclarecer algumas informações sobre o tema é a médica neurologista Dra. Isabel Cristina Rockenbach, que respondeu esta entrevista. A matéria foi publicada na nossa edição de Medicina e Saúde, que você também pode conferir aqui!

QUAIS SÃO OS SINTOMAS QUE CARACTERIZAM A DOENÇA DE PARKINSON? A síndrome Parkinsoniana ou parkinsonismo é um dos mais frequentes tipos de distúrbio do movimento e apresenta-se com 4 componentes básicos: acinesia/bradicinesia (lentificação dos movimentos), rigidez, tremor e instabilidade postural. O Diagnóstico da Doença de Parkinson depende da presença desses sinais motores, no entanto, sabe-se hoje em dia que no momento em que os sinais motores ultrapassam o limiar da detecção clínica, já há uma considerável lesão da substância nigra (grupo de neurônios específicos, localizados no mesencéfalo que são responsáveis pela síntese e regulação da liberação de dopamina para o cérebro).

EXISTE UMA IDADE MÉDIA EM QUE AS PESSOAS COSTUMAM MANIFESTAR A DOENÇA? O início da doença ocorre geralmente por volta dos 60 anos de idade, acometendo ambos sexos e diferentes raças. Estima-se que a prevalência da doença de Parkinson seja em torno de 100 a 150 indivíduos afetados em cada 100.000 habitantes.

DE QUE FORMA A DOENÇA SE DESENVOLVE? Embora a doença se manifeste por volta dos sessenta anos, diversos estudos utilizando diversas abordagens metodológicas já demonstraram que a degeneração dos neurônios da substancia nigra está presente até 5 anos antes do início dos sintomas motores. O que desencadeia a degeneração desses neurônios, bem como o processo pelo qual ela progride ainda é território obscuro. Existem evidências da participação de uma série mecanismos como por exemplo: estresse oxidativo, anormalidades mitocondriais, alguns fatores ambientais, fatores genéticos, mas nenhum deles parece ser sozinho responsável pela doença. Muito provavelmente trata-se de doença de causa multifatorial.

COMO É A SUA PROGRESSÃO AO LONGO DOS ANOS? A Doença de Parkinson tem caráter progressivo e é incurável até o momento. A evolução, entretanto, varia muito de paciente para paciente. Há casos de pacientes com 20 anos de evolução dos sintomas, e embora tenha havido progressão ao longo do tempo, quase não há incapacitação física ou complicações de fase avançada. Por outro lado há pacientes que com 1 ou 2 anos de diagnóstico da doença apresentam grave incapacidade motora e demência. Em média pode-se dizer que os pacientes permanecem bem, com poucos sintomas por 4 a 5 anos após o diagnóstico, quando podem começar algumas complicações. A partir de 10 anos de doença aumenta muito o risco de demência e de declínio motor aumentando o nível de dependência do paciente.

COMO É FEITO O TRATAMENTO DA DOENÇA DE PARKINSON? A Levodopa segue sendo a principal forma de tratamento da doença de Parkinson desde o seu lançamento comercial na década de 60. Os outros fármacos disponíveis não têm a mesma eficácia que a levodopa, no entanto, tem sua utilidade nas diferentes fases da doença de Parkinson, inclusive reduzindo a dose necessária da levodopa e diminuindo as flutuações motoras. Uma vez feito o diagnóstico, intervir farmacologicamente de maneira precoce parece fazer a diferença na evolução da doença. Não existe uma fórmula pronta e acabada para se estabelecer um tratamento padrão para cada fase da doença. Não existe esquema terapêutico certo ou errado para o parkinsoniano. A principal indicação do tratamento cirúrgico é para os casos em que ocorrem complicações motoras de longo prazo apesar da melhor combinação de drogas. As melhoras nas técnicas cirúrgicas e na qualidade dos estimuladores empregados nas cirurgias para tratamento da DP tem ampliado sua gama de indicações. Mas é importante lembrar que a cirurgia não para a progressão da doença, apenas alivia os sintomas, especialmente para os pacientes que apresentam tremor muito importante.

COMO É POSSIVEL ALIVIAR OS EFEITOS DA DOENÇA NA QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE? Manter o paciente ativo pelo maior período de tempo possível, estimular a independência enquanto possível, tratar os sintomas neuropsiquiátricos associados à patologia (sintomas depressivos principalmente). Estimular o paciente a se manter envolvido com o tratamento, fazendo com que o mesmo mantenha diários dos sintomas. Atividade física orientada nas mais diferentes modalidades, conforme as aptidões e gosto do paciente. Adaptação de atividades simples para promover maior independência do paciente.

QUAIS OS PROFISSIONAIS QUE DEVEM ESTAR ENVOLVIDOS NO TRATAMENTO? Médicos Neurologistas, Educadores físicos, Fisioterapeutas, Terapeutas ocupacionais, Psicólogos, Fonoaudiólogos.

HÁ ALGUMA COISA QUE SE POSSA FAZER PARA EVITAR O APARECIMENTO DA DOENÇA DE PARKINSON? Infelizmente, no conhecimento médico atual não existem tratamentos indicados para prevenção primária (populacional) da doença de Parkinson. Para os pacientes que se apresentam na forma pré-clínica, ou seja, na forma em que os sintomas motores ainda não são suficientes para se fechar o diagnóstico, existem vários estudos apontando para algumas possíveis abordagens terapêuticas: uso de fatores neurotroficos gliais, uso de drogas bloqueadoras do cálcio, drogas de ação imunomoduladora/antinflamatória, antagonistas de receptores da adenosina A2a, drogas antiglutamatérgicas. No entanto ainda são estudos experimentais e não disponíveis até o momento para uso comercial, por não haver estudos suficientes que indiquem benefício inequívoco.

Dra. Isabel Cristina Rockenbach
CRM 26432
Neurologia e Neurofisiologia



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