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20 de maio de 2020

Tempo de Leitura: 4 minutos

Exclusão Digital: a dor dos negócios não digitalizados


Em tempos de distanciamento social, nunca antes enfrentados, adaptar os negócios ao digital foi com certeza um dos maiores questionamentos dos últimos dias. Ares arrependidos de quem sempre foi avesso as redes sociais ou não dava a elas tanta importância, fazem parte dos meus dias. Para alguns profissionais a venda física de produtos ou serviços sempre deu conta –e muito bem– de manter o fôlego financeiro e o tomar de susto dos atuais tempos de isolamento e abrupto distanciamento dos clientes têm tirado o sono de muitos empreendedores.

A área da saúde de um modo geral têm se desenhado receptiva as atuais tecnologias, porém alguns médicos, mais tradicionais, mostravam-se um tanto mais resistentes a produzirem conteúdos “instagramáveis”, eram preconceituosos aos stories informais frutos do dia a dia clínico e talvez “corressem longe” ao serem sugestionados a gravarem vídeos levando a público dicas de suas especialidades. Comportamentos compreensíveis, em profissão onde a ética, o sigilo e o regimento de rígidos conselhos sempre pautou o modus operandi de seu marketing. Postura que modulou alguns comportamentos totalmente avessos a quaisquer aparições, com o medo de parecer-se fútil, desesperado, inadequado ou -como muito escuto- “blogueiro demais”.

Como Publicitária que atua em segmentos variados, mas que têm como cartela de clientes em principal médicos, dentistas, psicólogos e nutricionistas, me permito trazer aqui, não fórmulas, mas apontamentos para reflexões sobre os novos rumos do Marketing e, como cidadã, contribuir com meus conhecimentos em um período onde a transparência, o altruísmo e  a solidariedade são premissas para manter-se no mercado.  São eles:

1– Não pense que utilizar redes sociais é ter um negócio digitalizado.
Ter redes sociais pode lhe auxiliar apenas em dois frontes: 1. Gerar empatia com seu público na medida que o ajuda com conteúdos relevantes e mostra seu lado mais humano. 2. Faz-se o começo de um funil de vendas para captação de dados de contato, agendamentos e pré-vendas.

2-Agências de marketing e designers que lhe entregam apenas posts não fazem seu negócio ser digital.
Aqui cabe uma correção epistemológica: Designer diagrama. Social media pensa em estratégia. Fazer artes gráficas esteticamente atrativas não significa estar sendo digital. Gerar empatia, credibilidade e vender no online parte de estratégias de conteúdo, compreensão de gatilhos mentais para copy (legendas) e direcionamento dessas postagens para ações através do gerenciador de negócios do Facebook (a monetização dessas postagens com filtros corretos aplicados em relação a dados geográficos, sociais e o desenho da sua persona (seu potencial cliente)).  Após isso, é necessário um olhar apurado sobre os gráficos de engajamento de cada publicação e a sugestão de tomada de decisões estratégicas em outros âmbitos para além de posts. Exemplos: Aliar-se a micro influenciadores digitais locais, trazer elementos de vida pessoal para o feed, criar oportunidades pautadas em datas comemorativas, meses temáticos; Orientar sobre as postagens com maior potencial para que “mereçam” ser patrocinadas; Estimular os próprios pacientes a de algum modo fazerem o marketing do profissional em postagens pessoais, de forma a não conflitar as diretrizes dos conselhos, etc. A prática nos ensina: que quem cuida do Marketing Digital precisa ser mais estrategista do que o próprio dono do negócio.

3- Conteúdo inteligente é conteúdo contextualizado.
Em tempos de prevenção nunca vimos tantos conteúdos orientando sobre como lavar as mãos e o uso do álcool em gel. Relevantes sim, mas iguais por todos os lados. É momento de pensar: Como o meu negócio ou a minha especialidade conversa com o cenário atual. Como um nutricionista pode ajudar para que a quarentena não resulte em pessoas com sobrepeso, como um psicólogo pode manter sua audiência mentalmente mais saudável, como um pediatra pode desmistificar temores dos pais ou ainda sugerir atividades divertidas para as famílias. Geriatras, cirurgiões plásticos, dentistas, como todos estão lidando com suas rotinas e como se adaptaram para desenvolver a economia (quem tem grupo de colaboradores e conseguiu mantê-los até aqui, pensando em famílias, antecipando férias, ajustando a rotina de trabalho… Traga por favor esse bom testemunho para sua audiência, mostre seu lado humano e social, as pessoas estão sedentas de boas notícias).

4- Não tema parecer oportunista ao aparecer apenas agora no digital.
Nunca teve rede social ou mesmo tendo nunca deu dicas, gravou vídeos ou mostrou algo mais pessoal? Ninguém vai te achar oportunista ou desesperado. Preocupe-se menos. O espírito de coletividade e seu desejo genuíno de ajudar e trazer conhecimentos contextualizados da sua área sem necessariamente vender nada, ajudará sua audiência a enxerga-lo apenas com bons olhos. Tendo espaço após isso para vendas de ebooks, cursos ou consultas online ou quaisquer estratégias que tenha avaliado (preferencialmente sob a consultoria de um social media e atento às especificações de seu conselho de categoria), isso vêm apenas de encontro ao momento atual -que todos estamos- de adaptação, de remodelagem de negócios.  Aproveita quem quer, compra quem precisa.

5- Pense no todo, não apenas nas Redes Sociais.
Uma rede social se não bem programada e automatizada, por si só não é capaz de gerar cadastros e muito menos vendas. Muitas páginas de captura de leads não se estruturam sem um site ou o auxílio de email marketing. Vendas online não acontecem sem a mediação de plataformas automatizadas de pagamento. Conteúdos relevantes e bem acabados não nascem de marcas sem identidade visual. Tudo faz parte de um conjunto. Talvez você precise começar do zero, talvez precise adaptar-se apenas com o que tem agora, mas o importante é começar. A temida “exclusão digital” não acontecerá em 2050. Ela acontece hoje. Não espere “ver para crer” e perceber que está obsoleto. Em poucos dias de quarentena muitos já se viram nessa condição.

E por fim, como último conselho, é momento de ser AMIGO. De estar ao lado daquele que está do outro lado da tela do telefone ou do computador e que pode estar emocionalmente mais fragilizado. Você com seu conteúdo pode ser o alento, o otimismo, o entretenimento e a informação de qualidade que mudará o dia, o pensamento, a motivação e a vida de alguém. Quando tudo isso acabar,  tenha certeza que seus potenciais pacientes terão mais empatia por você do que pelo seu concorrente, que optou em se omitir.

As pessoas comuns já são digitalizadas. Agora são os negócios que precisam correr atrás das pessoas.



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