Gastro Clínica de Cirurgia da Obesidade e do Aparelho Digestivo


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4 de novembro de 2020

Tempo de Leitura: 8 minutos

Gastro Clínica de Cirurgia da Obesidade e do Aparelho Digestivo


Confira na íntegra a matéria publicada na edição de Medicina e Saúde, lançada no mês de outubro, com os médicos Diego Mattioni Maturana e Rafaela Lazzari Pietroski, capa da edição. Eles falam sobre sua carreira e desmistificam temas sobre a cirurgia bariátrica

Diego Mattioni Maturana e Rafaela Lazzari Pietroski cultivavam desde a infância o desejo de tornarem-se médicos. Ele, desde pequeno, escutava seu pai contar que havia tentado ser médico, mas que infelizmente não havia conseguido. Diego acredita que essa vontade do pai passou para ele, pois o caminho da medicina surgiu naturalmente em sua vida. Já Rafaela sempre gostou de cuidar de pessoas e familiares próximos, inspirada pela mãe, que sempre foi a gerenciadora de medicamentos da família inteira. “Não tenho familiares médicos próximos, o gosto partiu de mim mesma para iniciar a vida na medicina. Ao ter que me decidir para qual profissão prestaria vestibular, sem dúvida a medicina me despertou curiosidade e desejo de saber como seria trabalhar neste universo”, conta.

Diego, que é natural de Ijuí/RS, formou-se Médico pela Universidade de Passo Fundo (UPF) em 2011, fez sua Residência Médica em Cirurgia Geral pelo Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo/RS; Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Hospital São Lucas da PUC – Porto Alegre/RS; Pós Graduação em Cirurgia Bariátrica e Metabólica pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz São Paulo/SP. Rafaela, natural de Passo Fundo, formou-se também pela Universidade de Passo Fundo (UPF) em 2013, fez sua Residência Médica em Cirurgia Geral pelo Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo/RS; e Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Hospital São Lucas da PUC – Porto Alegre/RS.

Com os caminhos cruzados pela medicina e pelo interesse partilhado na área da Cirurgia do Aparelho Digestivo, o casal compartilha a rotina de atendimentos e cirurgias na Gastro Clínica de Cirurgia da Obesidade e do Aparelho Digestivo. Atendem consultas particulares e por convênios (Ipe, Cassi, Unisaúde, Cabergs, Usamed,Capasemu, Saúde Certa, Coopusaúde, Amil, HCR Hospicard, associação dos funcionários do HSVP, Viamedi, Prontoclínica, Bradesco Saúde, Medprev); Realizam atendimento clínico para tratamento de doenças gastrointestinais, cirurgia bariátrica e metabólica, cirurgias por vídeo, apendicectomia, retirada de vesícula biliar, cirurgia de hérnia inguinal e abdominal, cirurgia de fígado/pâncreas/intestino delgado e cólon e também pequenas cirurgias ambulatoriais.

Diego compartilha que o que mais lhe encanta no dia a dia é poder ajudar uma pessoa a recuperar sua autoestima e sua qualidade de vida através da cirurgia bariátrica. “Muitos pacientes revelam que a data da cirurgia é um segundo aniversário”, destaca. Para Rafaela, o fascínio pela área de cirurgia geral e cirurgia do aparelho digestivo está no fato de ela ser muito ampla. “É uma área com muitos desafios e diagnósticos, diversidade de tratamentos e procedimentos cirúrgicos, que vão desde pequenos procedimentos ambulatoriais, até mesmo cirurgias extremamente invasivas e complexas. O maior desafio, sem dúvida, é manter atualização constante em todas as patologias e tratamentos que a área de cirurgia digestiva abrange, pois, há muitas novidades dia após dia, modificações de tratamentos e de técnicas cirúrgicas. Cabe ao cirurgião especialista se aprimorar e oferecer aos seus pacientes o melhor tratamento disponível”, afirma.

A cirurgia bariátrica
Diego e Rafaela respondem a seguir perguntas sobre importantes temas que envolvem a cirurgia bariátrica

Qual é o principal objetivo da cirurgia bariátrica?
A Obesidade é uma doença crônica, considerada, atualmente, um dos principais problemas de saúde pública do Brasil. É responsável pelo aumento do número de diversas doenças crônicas, principalmente Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial Sistêmica e doenças cardiovasculares.

O diagnóstico da obesidade é feito por meio do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), que avalia a relação entre o peso e a altura. Quando o IMC é maior do que 30, a pessoa é considerada obesa. Quanto maior o índice, mais chances do paciente desenvolver diabetes, problemas cardiovasculares e nas articulações, hipertensão arterial e depressão, problemas diretamente ligados à pior qualidade de vida e menor longevidade.

Hoje em dia, a cirurgia bariátrica é considerada a ferramenta mais eficaz no controle e no tratamento da obesidade severa. Os benefícios da cirurgia incluem redução do peso, controle de doenças metabólicas como Hipertensão (pressão alta), Diabetes, Dislipidemia (colesterol alto), Esteatose Hepática (gordura no fígado) e Apnéia do sono, além de aumento da qualidade e da expectativa de vida dos pacientes submetidos ao procedimento.

Como se dá a indicação para essa cirurgia? Qualquer paciente pode fazê-la?
É importante lembrar aos pacientes que a cirurgia bariátrica não é uma cirurgia estética e não está indicada para pacientes com sobrepeso; ela tem indicações específicas, sendo importante o paciente realizar avaliação com uma equipe especialista no tratamento da obesidade. O tratamento do sobrepeso e da obesidade abrange mudanças no estilo de vida, com introdução de dieta menos calórica, prescrita por nutricionista ou médico nutrólogo, aliadas a um programa de exercícios físicos, sob a supervisão de um profissional educador físico. Também existem indicações específicas para o uso de medicamentos, como antidepressivos, controladores de apetite e medicamentos que reduzem a absorção de gordura pelo organismo. Para os casos mais graves, onde o paciente já tentou as medidas menos invasivas, com acompanhamento de uma equipe especializada em obesidade, e não atingiu um resultado satisfatório, em termos de perda de peso e melhora de doenças associadas, após um período de 02 anos, é indicada a cirurgia bariátrica (para pacientes que apresentam o índice de massa corporal (IMC) acima de 35, e que possuem doenças associadas à obesidade; e para os que têm IMC acima de 40, quando já se considera obesidade mórbida. Também, atualmente, existe a indicação da cirurgia metabólica, popularmente conhecida como cirurgia do diabetes, que está indicada para pacientes diabéticos, que apresentam IMC acima de 30, com alguns critérios específicos da doença – estes pacientes necessitam de acompanhamento com endocrinologista e avaliação com cirurgião bariátrico para definição do melhor tratamento, conforme o status do diabetes apresentado.

Quais são os benefícios da cirurgia bariátrica?
Perda de peso – Esse é o fator que irá desencadear todos os outros benefícios. Melhora e remissão do diabetes tipo 2 – Após a cirurgia, grande parte dos pacientes consegue manter o nível de glicemia controlado e, muitas vezes, para de tomar remédios. Redução do risco de morte – A remissão de doenças associadas e a diminuição do risco de desenvolver alguma comorbidade é um fato marcante nos benefícios da cirurgia. Há redução da ocorrência de hipertensão, diabetes, problemas cardíacos, desgaste precoce de articulações, melhoria do sono, entre outros. Diminuição do uso de remédios – indivíduos que atingem seu peso ideal, diminuem ou cessam totalmente o uso de remédios para tratar problemas relacionados à obesidade. Autoestima – A criação de uma nova imagem após a perda de peso, a redução de medidas e o novo estilo de vida são fatores importantes que ajudam na motivação, autoconhecimento e despertam a sensação de segurança. Hábitos saudáveis – Após a cirurgia, uma nova rotina de alimentação é necessariamente criada. Com uma nova dieta e consequente perda de peso, pacientes que passam por processos cirúrgicos ganham disposição para a prática de atividades físicas.

O que o paciente precisa fazer antes da cirurgia?
Antes de realização da cirurgia bariátrica deve ser realizada uma avaliação clínica e complementar, através de exames para realização da cirurgia dentro de parâmetros de segurança.

  1. Consulta inicial. Momento em que o paciente apresenta seu histórico, relata seus sintomas e suas queixas e a partir de quando o médico faz perguntas importantes relacionadas à obesidade e as doenças associadas, além de medicamentos em uso e de questionamentos sobre cirurgias anteriores e sobre doenças prévias.
  2. A solicitação dos exames laboratoriais, cardiológicos, respiratórios, endoscópicos e de imagem é o próximo passo e abrangerá uma maior ou menor quantidade de exames a depender também das doenças acometidas pelo paciente.
  3. Após a realização dos exames, o paciente necessita ser avaliado por toda a equipe multidisciplinar. Integrada pelo cirurgião, cardiologista, endocrinologista, pneumologista, nutricionista, psicólogo ou psiquiatra, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e anestesiologista.
  4. O paciente com obesidade que tem indicação de cirurgia apresenta seus exames e recebe o parecer de cada um desses profissionais, iniciando a preparação para se submeter ao ato operatório.
  5. A técnica cirúrgica é decidida em conjunto com o paciente e baseada nos achados de seus exames. As orientações dietéticas e a preparação psicológica são pontos importantes nos dias que antecedem o ato operatório.

E depois, quais são os cuidados necessários?
Existem muitos mitos a respeito do procedimento e do pós operatório. Atualmente, a maioria das cirurgias bariátricas são realizadas por videolaparoscopia, com um pós operatório ativo, que inclui mobilização precoce do paciente, fisioterapia desde o dia da cirurgia, início precoce à dieta líquida, já no primeiro dia de pós operatório e acompanhamento da equipe multidisciplinar, que inclui anestesista, médico cirurgião digestivo, médico clínico, fisioterapeuta, nutricionista, psicóloga, psiquiatra e equipe de enfermagem. Durante os primeiros trinta dias após a cirurgia, o paciente receberá dieta líquida e pastosa; posteriormente, é introduzida a dieta com consistência sólida.

Há um mito de que o paciente submetido à cirurgia bariátrica não irá mais poder ingerir carne vermelha! Como dito, isso é um mito. A carne vermelha é um alimento rico em proteínas, fero e outros minerais, portanto o paciente é incentivado pela equipe multidisplinar a ter uma ingesta adequada, a fim de prevenir desordens/ deficiências nutricionais. Todo paciente que for operado, deverá seguir as orientações da nutrionista e da equipe para evitar complicações. O ideal é sempre comer carnes macias, em pequenas porções e, principalmente, não esquecer da mastigação adequada, fator fundamental para facilitar a ingesta de carne e alimentos sólidos.

Em um pós operatório habitual, excetuando-se algumas situações especiais, o paciente volta às atividades habituais em torno de quinze dias; pode dirigir e realizar caminhadas; É necessário um período maior para o retorno à atividade física/musculação ou situações que exijam esforço físico, em torno de 60-90 dias, para diminuir o surgimento de hérnias abdominais.

É extremamente importante o acompanhamento da equipe multidisciplinar em todo o período pré, peri e pós operatório, pois o paciente passa por muitas modificações corporais e psicológicas, e necessita de profissionais especializados para o correto manejo clínico. São realizadas dosagens periódicas dos níveis de minerais e vitaminas séricas, para avaliar a reposição adequada para cada paciente.

O que é esperado em termos de resultado e perda de peso?
Existem alguns mecanismos que levam à perda de peso e ao controle das doenças metabólicas após a cirurgia bariátrica. O principal mecanismo é o fator restritivo, como o próprio nome da cirurgia bariátrica é conhecido, popularmente, é uma redução de estômago. O estômago habitual tem uma capacidade de mais ou menos um litro e meio, e após a cirurgia bariátrica o paciente vai ter um estômago pequeno, de mais ou menos 30 a 50 ml, e este novo estômago vai fazer com que o paciente reduza a quantidade de alimentos ingeridos, justamente por ser um estômago reduzido, e com isso, vai levar à diminuição da ingestão de calorias e ao emagrecimento.

O estômago habitual tem uma parte chamada fundo, onde é produzido o hormônio chamado grelina, conhecido por ser o hormônio da fome. Após a cirurgia bariátrica, essa parte do estômago – fundo – não fica mais pertencendo ao estômago novo/estômago pequeno, então consequentemente a fome é reduzida no pós-operatório; o paciente não terá a mesma fome que tinha antes de ser operado, sendo mais um mecanismo que leva à perda de peso.

Além disso, a cirurgia bariátrica – Bypass gástrico, como o próprio nome diz, possui um desvio intestinal, e nesse desvio, o intestino fino (delgado) recebe o alimento logo após o paciente ingeri-lo; neste local, há a presença de alguns hormônios que estimulam a produção de insulina, a qual reduz a glicose no sangue; por isso, pacientes que tem diabetes ou outras doenças metabólicas, tem uma melhora/ um controle da doença após serem operados, porque quando o alimento cai rapidamente no intestino fino, a glicose no sangue baixa, além da presença de um hormônio da saciedade, que diminui a ingesta alimentar.

O período de perda de peso no pós-operatório ocorre desde a primeira semana até geralmente os 2 anos após a cirurgia,  havendo então um período de estabilização do peso, e até mesmo, um pequeno reganho de cinco a dez por cento do peso que foi perdido, sendo um achado normal. Após os dois anos da cirurgia, é muito importante o paciente manter o acompanhamento clínico com a equipe multidisciplinar, para avaliações frequentes dos níveis de vitaminas, hábitos alimentares, estado emocional, grau de atividade física e avaliação antropométrica.

Muitos pacientes operados desejam realizar a cirurgia plástica reparadora para eliminação de excesso de pele, sendo indicado esperar este período de 02 anos de pós-operatório, quando espera-se que haja a estabilização do peso.

Diego Maturana
Médico pela UPF; Cirurgião Geral pelo HSVP; Cirurgião do Aparelho Digestivo pelo HSL/PUCRS; Pós Graduado em Cirurgia Bariátrica e Metabólica pelo HAOC – SP; Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD); Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM); Membro da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade (IFSO).

Rafaela Pietroski
Médica pela UPF; Cirurgiã Geral pelo HSVP; Cirurgiã do Aparelho Digestivo pelo HSL/PUCRS; Membro da SOBRACIL – Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica.

Marau/RS – Rua Bento Gonçalves, 10 – Junto ao Hospital
Cristo Redentor – Fones (54) 3342.9414 – (54) 3342.9413

Passo Fundo/RS – Rua Capitão Araújo, 297
Edifício Vértice, Sala 1004 – (54) 3622.7270

 

 



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