Quando um homem torna-se pai…


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5 de setembro de 2019

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Quando um homem torna-se pai…


Existem muitas formas de se tornar pai e, ao longo da vida, os homens têm a oportunidade de se descobrirem e se tornarem pais. Nesta matéria compartilhamos histórias, vivências e pensamentos de dois pais – que tem em comum o imenso amor pelos seus filhos

Pablo Morenno é escritor, palestrante e funcionário público do Tribunal Regional do Trabalho. Ele veio de uma família numerosa de dez irmãos. As famílias de seus pais também eram grandes e as festas familiares eram como um casamento grego com muita gritaria, confusão, crianças gritando, coisas sendo quebradas e até desavenças antigas vinham à tona. Sempre era uma vida efervescente, com conflitos, choros, abraços, terminando tudo bem no final das contas. Essa vivência em família sempre fez com que Pablo tivesse a vontade de ser pai, ter três ou quatro filhos sempre esteve em seus planos. Por isso, ele e sua esposa venderam o apartamento que tinham e comparam uma casa antiga, enorme, com 6 quatros e área de empregada, 6 banheiros, 4 salas…

Pablo tinha 24 anos quando casou-se. Sua esposa tinha 17 e foi emancipada para casar. “Assim, nos primeiros anos, tínhamos que terminar os estudos, ter algum patrimônio para dar segurança aos filhos”, relembra. Pablo formou-se em Filosofia, depois cursou Direito e fez concurso para o Tribunal do Trabalho. Quando completou 30 anos, pensou que era uma época boa para ter filhos, pois assim não estaria muito velho quando eles fossem adolescentes. Mas então o destino colocou alguns obstáculos em seu caminho. “Descobrimos dificuldades para ter filhos. Minha esposa tinha endometriose, ovários polimicrocísticos e isso havia afetado as trompas. Fizemos várias tentativas de fecundação in vitro e minha esposa chegou a ter uma gravidez de gêmeos (um menino e uma menina) que foi interrompida com a gestação em 17 semanas. Depois fizemos outras tentativas que não obtiveram resultado”, conta.

O casal já pensava em adotar, mas depois de ter dois ou três filhos biológicos. Como a vida não permitiu, o casal apenas pulou uma etapa. “O mais difícil é se descobrir como pai ou mãe adotivo. No nosso caso, para minha mulher, que já havia experimentado a gravidez, foi um pouco mais doloroso e difícil, pois tivemos o luto do aborto duplo. Isso não é fácil de assimilar. Sempre parece que o filho adotado viria para substituir os filhos abortados, ou para compensar uma incapacidade nossa… Superadas estas questões emocionais e digerida a dor, era preciso descobrir que a adoção é uma experiência de paternidade da mesma natureza, embora com processo diferente”, destaca.

O casal se inscreveu na lista de espera, a princípio para crianças recém-nascidas ou com até um ano. Mas, convivendo no grupo de adoção e conhecendo melhor a realidade, eles resolveram mudar para aceitar crianças maiores. O processo foi demorado e levou em torno de quatro a cinco anos, gerando muitas expectativas no início. Depois, o casal relaxou, e quando menos esperavam foram chamados. “Não sei se foi destino, acaso, ou surpresa do universo. Nós fomos chamados para conhecer o Erick na segunda-feira seguinte ao dia dos pais de 2012. No domingo à tarde, passeávamos pela UPF e eu observava os pais e seus filhos naquele dia tão especial… É bom dizer, que o processo de adaptação não foi fácil. Nosso filho tinha três anos e meio, e havia passado por duas experiências de adoção que não haviam sido bem sucedidas, fazendo com que ele retornasse à casa de acolhimento. Essas marcas emocionais atrapalharam a formação inicial do vínculo afetivo. Mas, ao mesmo tempo, exigiram um maior desprendimento nosso e nos fortaleceu para sermos pais melhores”, destaca.

Tudo foi sendo superado e até se tornou um livro infantil chamado “O Anjo Destrambelhado”, que conta a história da formação dessa família. Muitas escolas colocam o livro na lista de materiais do ano e os alunos leem e se encantam. “Muito mais do que a adoção, eles aprendem sobre ter família, afeto e amor”, complementa Pablo.

O dia das mães e o dia dos pais agora tem um sabor diferente na casa do casal, que não economiza as palavras para dizer que Erick é um menino muito amoroso e que sempre prepara surpresas.

“Ele conhece a sua história, assume como um jeito diferente de ser filho, mas diz que sempre sonhou com a gente como seus pais. Neste ano, ele me escreveu uma carta, em que, na primeira parte, coloca alguns defeitos: chato, exigente, rabugento… mas na segunda, ele diz que eu fui chamado por Deus para ser seu pai e uma estrela cadente me deu algumas qualidades que convivem com meus defeitos: carinhoso, amoroso, paciente, cuidadoso, responsável, trabalhador… Ele também tem orgulho em contar para todo mundo que sou escritor, que viajo para várias cidades do Brasil para conversar com as crianças. Acho bom isso, porque ele não me idealiza, mas sabe que ser pai é ter dois lados. Eu era assim mesmo com meu pai. O Erick ainda tem coisas que eu sempre sonhei para um filho meu: gostar de cozinhar, ser generoso e empático, gostar de música e de histórias”, conta.

Muitas coisas mudaram na vida de Pablo depois da chegada de Erick, especialmente as prioridades. “Pensamos nossa vida focada nos filhos. Nós, que viajávamos durante o ano, temos que deixar para as férias… se escolhemos um hotel, é preciso ver se tem recreação; se vamos ver um filme ou fazer um passeio, pensamos se é do agrado deles. Isso sem contar que os investimentos econômicos sempre tem os filhos na frente. Sacrificamos escolhas nossas para que eles possam ter uma boa escola, fazer natação, ou ter brinquedos ou livros que eles gostam. Isso é a parte exterior da paternidade. Dentro da gente mudam tantas coisas que nem sempre aparecem. Meus livros infantis ficaram melhores (aliás, só recebi prêmios nesta área depois que o Erick chegou). Vamos nos tornando mais pacíficos, mais generosos, mais sensíveis, menos beligerantes, pensamos no mundo para eles e nossos netos, deixamos de dar importância para coisas pequenas, começamos a achar tempo onde não havia, damos menos importâncias às disputas, aos valores econômicos, achamos linda uma flor de dente-de-leão que ele achou na rua e nos traz, discutimos menos, descansamos mais, ouvimos mais histórias, e até sentimos menos dor ou tristeza.  Eu acho que a experiência de ser filho é a de olhar para trás, de ter para onde voltar (no caso nossa casa paterna). A experiência de ter filhos é a de queimar os barcos e olhar para o futuro, para o mundo onde quem terá que construir uma casa para nos abrigar somos nós. Ser pai é costurar o tempo e temperar a espera”, finaliza.

 

Pai de primeira viagem…

“Demorou para cair a ficha”, conta Matheus Cezar Gartner sobre o momento em que descobriu que seria pai. “Eu chorava de tanta emoção. Ligava para amigos e familiares a todo instante. Uma sensação de que o melhor da vida ainda estava por vir. A gente aprende muito com nossos pais e avôs, e de repente você se torna pai. Eu só imaginava como ela/ele seria e tudo que passaríamos juntos”, conta.

Há poucos meses ele e sua esposa Thana Cavallini tornaram-se os pais da Antônia e, desde então, suas vidas vem sendo cheias de descobertas e alegrias incomparáveis. “A vida muda. Literalmente. A rotina é outra, o pensamento é outro, você enxerga tudo com outros olhos. Eu costumo falar que antes de ser pai, eu fazia as coisas com um pensamento muito individualista. Hoje tudo o que eu faço é pensando nela”, ressalta Matheus.

Nessa jornada de ser pai, o que mais o encanta é ver dia a dia o crescimento de um serzinho que a eles acompanham desde os primeiros ultrassons. “Cada dia é um aprendizado: para a Antônia e para o pai babão”.

 



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