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A QUEM INTERESSAR POSSA


Matérias do autor


8 de dezembro de 2015

Tempo de Leitura: 4 minutos

A QUEM INTERESSAR POSSA


Durante muito tempo escrevi uma coluna só para mulheres, em uma revista que trabalhei quando morava em São Paulo. Sempre disse para minhas leitoras que não aceitassem de seus amores, menos do que mereciam. A verdade é que nem sempre isso foi real para mim mesma. Algumas vezes aceitei muito menos. Chico até diria “uma pedra falsa, um sonho de valsa, um corte de cetim”.

Eu precisava dizer isso a elas, porque um amor bandido, vencido ou diminuído não se deseja a ninguém, muito menos a um grupo de leitores assíduos. Mas no fundo, bem no fundo, eu dizia isso a mim mesma, todos os dias. Repetia em voz baixa, desejando que se tornasse real, ou que eu tivesse força suficiente para fazer acontecer.

E vez ou outra meus amores do passado foram bem menos do que eu merecia. Bem menos do que qualquer mulher merece. E confesso minha culpa por ter aceitado tão pouco, por ter permitido contentar-me com migalhas.  Por não ter percebido que o amor altruísta, abnegado e incondicional serve para a humanidade, para o próximo, mas que o amor romântico precisa ser compartilhado na mesma medida, retribuído, trabalhado e construído a dois.

Só que a gente aprende com as quedas, cresce, amadurece e se fortalece e um dia a gente olha no espelho e percebe que “se eu não me amar ninguém vai me amar” não é filosofia de para-choque de caminhão. É a mais pura e cristalina verdade porque, ou acabo encontrando alguém que reforce a minha autoimagem negativa, ou atraio pessoas que veem em mim aquilo que eu mesma enxergo de bom e até um pouquinho mais. Ou uma coisa ou outra, não dá para fugir.

Então chega uma altura da vida que a gente pensa que já viveu de tudo, que já passou pelas duas experiências, que foi bom enquanto durou ou “graças a Deus que terminou” e vai se acomodando na falácia de que “toda panela tem sua tampa, mas tem gente que é frigideira”. E aí aprende a curtir a própria companhia e a aproveitar os outros prazeres da vida que não estão relacionados ao amor.

Se você chegou nessa fase, para tudo. Sai desse sofá, tira esse pijama e volta para a realidade. O mundo está cheio de pessoas interessantes e uma delas é bem o seu número.  Tudo bem, de repente vai ter que por um algodão na frente e uma palmilha a mais, mas sim, “todo pé torto tem o seu chinelo”, ou coisa parecida. A menos que você tenha se proposto a viver sozinho ou sozinha e que isso não seja um fardo na sua vida, tenha a certeza de que o seu amor vai chegar. Apenas pare de achar que virá num cavalo branco, numa carruagem ou numa nuvem fofinha, mas tenha a certeza de que virá na hora certa.

Com meus amores do passado aprendi que eu merecia mais e passei a esperar alguém extraordinário. Já não me servia mais um amor de verão, um cara legal, uma pessoa gente boa e sem antecedentes criminais. Eu sei, eu sei, o cara perfeito não existe. Mas eu queria alguém que chegasse perto disso, porque eu já tinha sofrido a minha cota de desilusões para uma vida inteira.

Então hoje, quando olho para o meu amor do presente, eu desejo mais ainda que cada pessoa de bom coração entenda que merece mais do que tem recebido. Que um relacionamento abusivo tem que ser descartado antes que seja tarde. Que querer alguém que esteja à altura dos seus padrões morais não é ser exigente demais. Que existe alguém, assim como você, que olha além do que os outros podem ver e procura mais do que um sorriso branco, um bumbum na nuca ou um carro do ano e que encontrá-lo ou encontra-la é só uma questão de tempo e geografia.

Às vezes, quando estamos estendendo roupa, meu amor do presente e eu, e ele me pergunta se é assim que eu gosto que estenda ou se tem que virar as roupas coloridas do avesso, eu me pergunto: onde ele esteve a vida inteira, enquanto eu juntava migalhas? Quando eu choro e ele não fica me olhando com uma cara estranha de quem não sabe o que fazer, mas me abraça e diz que vai ficar tudo bem, eu penso: por que precisei me contentar com tão pouco? Quando ele abriu mão de um dia inteiro de folga para pintar o quarto da minha filha de cor-de-rosa, eu pensei: por que tive que dar tantas voltas, para finalmente me encontrar dentro desses braços?

E então eu entendo que é aí que mora a beleza das pequenas coisas. Quem sabe se eu tivesse encontrado esse amor no passado, quando eu ainda não sabia o quanto merecia receber de alguém, ele tivesse passado despercebido. Ou talvez eu nem tivesse notado que o que realmente importa é o quanto uma pessoa se dispõe a fazer dar certo, já que amor não é mágica, é atitude.

E é por essas e outras que eu digo: não desista, não se acomode, não se afobe. Não aceite o pouco que alguém oferecer em troca de companhia. Não carregue nas costas o peso de quem não tem nada a acrescentar. O amor tem que ser leve, tem que ser construtivo, tem que fazer crescer, aprender, conhecer. Nem sempre a espera é breve, mas meu amor do presente me faz atestar, registrado no cartório da vida, para os devidos fins e a quem interessar possa que sim, vale a pena esperar por um amor assim.



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