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O RISCO DO PRAGMATISMO E A IMPORTÂNCIA DE SONHAR, PENSAR, FALAR


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7 de dezembro de 2015

Tempo de Leitura: 3 minutos

O RISCO DO PRAGMATISMO E A IMPORTÂNCIA DE SONHAR, PENSAR, FALAR


Este artigo pretende conduzir o leitor a questionar sobre o que significa estar alienado em um mundo interno e externo pragmático, e porque isso é arriscado em termos de saúde mental. Segue um trecho do livro Cama de Campanha, do psicanalista e poeta Flávio Carvalho Ferraz: MALAQUIAS, que fala por si só:

“Malaquias foi um homem absolutamente normal: trabalhava por necessidade, batia na mulher, surrava os filhos, bebia umas e outras, e com outras despendia o dinheiro que fazia falta em casa.

Foi normal até na morte: a viúva e os filhos prantearam o finado à exaustão e o padre chamou, no sétimo dia, de pai e marido exemplar.

Malaquias foi um homem tão normal que, a bem da verdade, não sei porque fui falar dele agora.”

Segundo a psicanalista e escritora Myriam Chinalli, “Malaquias viveu e morreu numa existência sem sonho e sem elaboração. Fazendo uma analogia com os estudos da poesia e da psicanálise, Malaquias “cometeu” uma vida de pragmatismo, no pior lugar-comum, sem se permitir descobrir seu ser interior de poesia.”

 

Vamos compreender melhor:
No texto A Interpretação dos Sonhos (1900) de Sigmund Freud, lê-se o autor, pai da Psicanálise, fazendo uma distinção entre a realidade material e a realidade dos “pensamentos de transição e de ligação”, e do que denominou realidade psíquica. A realidade psíquica do sujeito é formada por fantasias acessíveis à consciência, por devaneios inacessíveis inconscientes, e por uma narrativa fictícia que o sujeito cria e conta sobre si mesmo.

Sigmund Freud, Melanie Klein, Jacques Lacan e autores atuais, correlacionam a arte e a literatura, com a expressão do inconsciente. O inconsciente é uma esfera psíquica que nem a neurociência ainda conseguiu abarcar em sua totalidade nem a metapsicologia freudiana, embora sejam contribuições importantíssimas. Isso porque o mundo subjetivo é complexo, rico, vasto e de difícil apreensão.

A Psicanálise trabalha com a narrativa que o sujeito constrói sobre si mesmo e com sua realidade psíquica num todo. Ao falar, o paciente poderá liberar afetos, lembranças e representações que o aprisionam em sofrimento psíquico. Quando não se dá voz a esse sofrimento, corre-se o risco de atuar contra os outros, como no caso de Malaquias.

A existência universal da poesia, literatura, cinema, teatro, arte, música indica a necessidade humana de expressão desse mundo subjetivo, carregado de sentimentos. Poderia-se dizer que são criações e manifestações de uma desmedida ou de uma proporção mais intensificada dos afetos, evidenciando sensibilidade e vida.

Não são expressões perversas por se localizarem no terreno da representação e não do ato, caracterizando-se pelo mecanismo de dar vasão a desejos, impulsos sexuais, amorosos e agressivos, a própria angústia de viver, o temor à morte, os medos concernentes à condição inerente do desamparo humano. Ou seja, há um discernimento entre fantasia e realidade que impede que o representado como cena de um filme, exemplificando, seja de fato praticado na vida real. Já a perversão implica na realização do ato pela impossibilidade de representar, como no caso da violência.

Visto desta maneira, o narrar no tratamento psicanalítico, e de forma similar, a arte, poesia, música, constituem um caminho e uma saída para o bem estar emocional. O tratamento psicanalítico tem sua especificidade, visando uma elaboração psíquica que coloca o sujeito paciente a trabalhar, mesmo com resistência, propondo uma fala livre, dolorosa, verdadeira, singular, como afirmou Lacan.

Se a vida é uma passagem, que seja o mais rica possível, tangível através da liberação de afetos positivos e negativos.  E a beleza está em saber viver num mundo de relação em movimentos contínuos de expansão, aprendendo dia a dia a se equilibrar na corda bamba que é a própria vida.

Psicóloga Lúcia Maria Endler CRP 07/04072



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