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PSICANÁLISE E CINEMA


Matérias do autor


3 de setembro de 2015

Tempo de Leitura: 3 minutos

PSICANÁLISE E CINEMA


A Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre proporciona um evento chamado Café Cinema no qual um filme é escolhido e apresentado, seguido da exposição de considerações acerca do mesmo por profissionais gabaritados convidados para tratar do tema. Após a explanação, o debate estende-se ao público, momento enriquecedor em que se abre espaço para a expressão de ideias, opiniões e dúvidas. O evento é aberto à comunidade em geral e gratuito.

Vou discorrer sobre o filme apresentado no dia 29/08/15: Relatos Selvagens. Trata-se de um filme argentino peculiar pela forma que foi construído, em seis episódios diferentes, cujo ponto em comum é a perda de controle emocional diante de situações de pressão. Encontrando apoio na visão dos profissionais convidados Fabiana Brito Grass, Paulo Picarelli Ferreira e Sílvia Stielfmann Katz e nos comentários dos demais, escreverei uma síntese própria constituída a partir de uma elaboração da minha escuta.

 

Assista ao trailer para ficar por dentro da história:


 

Primeiramente, a existência de controle ou descontrole emocional em maior ou menor grau, a partir dos anos primordiais da infância, depende de um meio ambiente organizador. O ser humano necessita de um ambiente bom o suficiente (nos termos de Donald Winnicott) para adquirir equilíbrio interior. Portanto, diante de um ambiente desorganizador, forças autodestrutivas e destrutivas, como o ódio gerador de comportamento violento, tendem a se intensificar.

No filme, em todos os episódios havia um ambiente desorganizado caracterizado pela ausência de uma lei coerente ou de um sujeito representante da lei que pudesse regular o comportamento.

O social descontrolado, repleto de falhas, onde a desigualdade de classes e a corrupção é um imperativo, favorece em grande medida o descontrole até nas pessoas que tentam conduzir suas vidas dentro de padrões considerados politicamente corretos (nos tempos atuais nos indagamos quais seriam e apoiados em quais parâmetros).

Outro aspecto é o de que todos nós temos um limiar para suportar ofensas. Assim cada indivíduo tem o seu “Calcanhar de Aquiles”, seria aquele ponto disruptivo do controle que se acende mais facilmente que outros. Desta forma, ocorrendo o despertar de uma emoção intensa frente determinadas situações chamadas de desencadeantes ou estimulantes, o sujeito poderá acionar a “chama do dinamite”. Nestas horas, com sorte, encontrar alguém equilibrado, representando um elemento apaziguador, mediador ou organizador, pode evitar uma tragédia provocada por um comportamento passional.

No episódio do Engenheiro Bombinha podemos concluir que a agressividade tende a ser regulada dentro de um ambiente organizador, mas nem sempre é o que encontramos na sociedade. Pois, como um homem vai ser racional num Estado irracional? O engenheiro assim como muitos de nós se sentiu injustiçado e roubado pelo próprio governo. Esses elementos do mundo externo causam indignação.

Por outro lado, o personagem do primeiro episódio efetuou uma vingança contra as pessoas que o ofenderam, refletindo a infelicidade de um homem que joga para os outros, para o sistema, para fora de si suas próprias imperfeições e deficiências, se vendo e se mantendo em posição de vítima, o que também não constrói nada e apenas destrói.

O episódio do casamento tem outras facetas. Retrata o quanto um casamento é mais do que uma convenção, e em uma sociedade do espetáculo que promove o marketing da felicidade. Os personagens vivem a sua loucura, mas no final acabam se encontrando de forma mais honesta e menos idealizada. A honestidade prevalece sobre a falsidade e somente assim é possível um encontro mais autêntico do casal.

No episódio da discussão no trânsito aparecem dois homens competindo, rivalizando e se comparando. Lembram irmãos que brigam demasiadamente e não param sem a intervenção de um adulto competente que os orientem a administrar e equilibrar conflitos. Nesta cena do filme, se houvesse a presença de uma pessoa mediadora, o desfecho fatal poderia ter sido evitado.

Por fim, destaco que o ambiente pode ser ora organizador, ora desorganizador, pois nunca haverá perfeição nem tamanha constância nem na família nem na sociedade, o que produzirá em conjunto com tendências constitucionais individuais herdadas e aprendidas, sujeitos com maior ou menor potencial “em puxar o gatilho do revólver” frente acontecimentos mais ou menos extremos e de acordo com o limiar de tolerância de cada um. Desta forma fica a pergunta: O que faríamos no lugar dos personagens? Até que ponto se consegue prever as próprias reações? E a dos outros?



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