A solidariedade não pode parar


Matérias do autor


17 de junho de 2024

Tempo de Leitura: 11 minutos

A solidariedade não pode parar


176 pessoas mortas. 39 pessoas desaparecidas. 478 municípios afetados. Mais de 400 mil pessoas desalojadas. 2,39 milhões de pessoas impactadas pela tragédia climática que atingiu o estado do Rio Grande do Sul no mês de maio. Os números divulgados pela Defesa Civil do Estado no dia 14 de junho, após pouco mais de um mês do início das fortes chuvas e consequentes enchentes, representam o todo de uma situação inimaginável que muitas pessoas estão vivendo. Pessoas que foram resgatadas e que tiveram que deixar suas casas tentam reerguer suas vidas em meio a um cenário devastador. 

Aqui, na região de Passo Fundo, no norte do Estado, onde as águas felizmente não chegaram com tanta força, assistimos aos jornais, acompanhamos os posts nas redes sociais e era difícil acreditar que tudo isso estivesse acontecendo aqui do nosso lado. 

Um turbilhão de sentimentos tomou conta de nós. 

Esse momento, tão atípico e impensável, também mexeu com a gente. Conversando com a psicóloga Graziela Ribeiro, buscamos entender alguns desses sentimentos que compartilhamos. “Mesmo que a nossa cidade não tenha sido diretamente afetada pelas inundações, as pessoas ainda podem experimentar uma variedade de sentimentos, tais como: ansiedade e preocupação com a segurança de amigos e familiares em áreas afetadas. Empatia e tristeza pelas vítimas e pelas perdas materiais e humanas. Culpa por não estar diretamente afetado e, portanto, se sentir mais seguro. Frustração e Impotência: não poder fazer muito para ajudar ou aquilo que julgaria suficiente. Medo de que uma situação semelhante possa acontecer em sua cidade. E esperança e solidariedade: realizando esforços de ajuda e doações na tentativa de poder aliviar o sofrimento das pessoas afetadas”, destaca. 

Segundo a psicóloga, cada pessoa pode sentir e usar estratégias diferentes para lidar com uma mesma situação.  Por isso, é importante refletir e buscar compreender aquilo que é mais efetivo para si. “Um dos primeiros passos é reconhecer e aceitar seus sentimentos sem julgamentos. Buscar informações de fontes confiáveis pode ajudar a reduzir a ansiedade causada por desinformação. Conversar com amigos, familiares ou um profissional de saúde mental sobre seus sentimentos. Além de envolver-se em atividades de ajuda, como doações ou voluntariado, o que pode transformar o sentimento de impotência em ações construtivas”, afirma. 

Essa última ação destacada por Graziela, tomou proporções gigantes em nossa região. Logo que as primeiras notícias começaram a chegar e que começamos a entender a gravidade da situação, já começaram a surgir as primeiras mobilizações para ajudar quem precisava. Grupos de amigos se juntaram, empresas se solidarizaram, influenciadores divulgaram, municípios se organizaram, profissionais se dispuseram, voluntários apareceram – e uma grande rede de solidariedade foi criada. 

E se em meio a toda essa tragédia podemos destacar algo bom, são as ações que aconteceram e seguem acontecendo em todo estado –  e até fora dele. Esta reportagem está aqui para inspirar e lembrar que a solidariedade não pode parar ainda, pois há muito trabalho a ser feito para que as vidas sejam reconstruídas. 

 

A mobilização das pessoas em Passo Fundo

Diante da tragédia que assolou o Estado, um grupo de civis voluntários, independentes, reuniu-se com o intuito de arrecadar doações e levar aos atingidos pelas enchentes. As primeiras arrecadações foram enviadas, exclusivamente por via terrestre, chegando às cidades de Muçum, Roca Sales e Vespaziano Correa. No dia 05/05, com o apoio da Infraero, que abriu os seus aeroportos para receber as doações vindas de todo Brasil e direcioná-las ao nosso Estado, o grupo passou a distribuir as doações arrecadadas através do Aeroporto Lauro Kortz. 

A advogada Aline Moura, uma das voluntárias nesta ação, conta que isso só foi possível graças à disponibilidade de empresários da nossa cidade e de outros lugares do país que colocaram suas aeronaves particulares (aviões e helicópteros) e pilotos à disposição da população. “Destacamos que o custeio operacional de toda essa mobilização foi pago através das doações recebidas pela influenciadora digital, passo-fundense, Letícia Stuchi. As doações vieram de todo Brasil, feitas por diversas pessoas, anônimos, artistas e outros influenciadores conhecidos nacionalmente. Todos se mobilizaram em favor do povo gaúcho. Após essa grande mobilização, se fez necessário ter um lugar maior para acomodar as doações recebidas. Diante dessa necessidade, o nosso parceiro Rodrigo Scortegagna sugeriu a Universidade de Passo Fundo, que prontamente abraçou a causa e gentilmente disponibilizou um espaço para o recebimento, triagem, separação e envio das doações”, conta. 

A operação contou com cerca de 15 organizadores. Pessoas nas suas mais variadas profissões, inteligentemente, buscaram alternativas em criar uma logística onde as doações recebidas chegassem a quem precisa, de maneira rápida. A voluntária destaca que o  principal desafio era chegar rapidamente a locais devastados e ilhados, onde carros, caminhões, nem aeronaves chegavam. “Diante disso, com o auxílio da profissional, Arquiteta, Marina Grando, formamos bases nos locais atingidos e através de uma plataforma criada por ela, conseguimos mapear o destino das nossas doações e realizar as entregas a quem necessitava”, explica. 

Foram 18 dias de muito trabalho e dedicação de voluntários que abdicaram do seu tempo e de suas atividades particulares em prol de quem mais necessitava. O grupo chegou a ter mais de 350 pessoas envolvidas em um único dia da ação. “Recebemos e distribuímos, aproximadamente, 3.000 toneladas, via terrestre e aérea. Destacamos a ação de particulares que se deslocavam com seus veículos atendendo a quem necessitava e de empresários que disponibilizaram suas carretas, caminhões, aeronaves e pilotos para transportar e entregar as doações onde nos era solicitado. Os destinos das doações foram, Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio, Rio Pardo, Triunfo, Alvorada, Lajeado, Putinga, Canoas, Roca Sales, Muçum, Gravataí, Porto Alegre, Eldorado do Sul, Jacarezinho, dentre outras localidades”, relata. 

No dia 19 de maio foi encerrado o recebimento de doações no CD da UPF e, com a força de voluntários e equipe de organização, o grupo segue com algumas entregas, destinando doações diretamente aos locais atingidos. Eles orientam que quem quer enviar doações pode preencher um formulário digital através deste link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSco-gcWG6ymVm6nuwz0audRxCmOsBPxuxQAdmrN7vL1YEs2XQ/viewform  – assim, eles entrarão em contato e farão o direcionamento para os locais que estão precisando de ajuda. “Diante dessa catástrofe onde muitas pessoas perderam tudo que tinham, alguns perderam a vida, acredito que todos nós, os gaúchos, assim como todos os brasileiros, fomos confrontados com a importância da empatia, solidariedade e ajuda, seja na distribuição de mantimentos aos desabrigados ou nas ações de salvamento e resgate ao simples ato de estender a mão ao próximo ou mesmo de exercitar a compaixão pelos animais em situações extremas”, finaliza Aline. 

 

Central de doações

Passo Fundo se tornou um ponto estratégico e logístico para a distribuição de doações e atendimento de pessoas afetadas pelas enchentes. O espaço cedido pelo município, na área da antiga Manitowoc, localizado na ERS 324, no bairro Valinhos, está funcionando como um centro de distribuição. As doações chegam ao local e de lá partem para as demais regiões do Estado, conforme os pedidos recebidos via central. Os donativos são distribuídos para entidades e abrigos cadastrados pela plataforma SOS Enchentes, do Governo do Estado. 

 

Em Carazinho, todos juntos!


Diante das notícias, com a vontade de poder ajudar de alguma forma, um grupo de amigos de Carazinho começou a se juntar. As conexões começaram em suas redes sociais e o engajamento se tornou um grupo sólido, que hoje conta com cerca de 30 pessoas atuando diretamente na organização, centralizando suas ações no perfil do Instagram @todosjuntos.czo e em um grupo do whatsapp. “Quando tudo estava acontecendo, nós estávamos em casa, com uma angústia muito grande, então, cada um foi falando com seus amigos, agregando voluntários e assim criamos uma grande rede de apoio”, conta uma das voluntárias Kimberly Kolling de Souza.

Segundo ela, a prioridade do grupo sempre foi garantir que as doações chegassem até as mãos das pessoas que estavam precisando. “Enviamos mais de 10 caminhões para muitos municípios do Vale do Taquari, Porto Alegre, Canoas; também carregamos em carros de parceiros que entregaram em mãos as doações para as famílias… Um dia fomos ao Vale do Taquari em 10 caminhonetes e 2 caminhões fazer mais entregas presenciais e foi um momento de virada de chave, pois vimos de perto a situação da cidade. Também nos deparamos com muita doação parada e percebemos que o nosso papel era carregar as doações e deixá-las na porta das casas das pessoas”, destaca. 

Desde então, o grupo tem feito o máximo para acompanhar as entregas, tendo hoje diversos contatos com pessoas nas cidades atingidas, que comunicam suas demandas para que seja enviado exatamente o que as pessoas precisam. “Depois que você vê a situação das cidades, você se sente muito pequeno,  parece que temos que fazer cada vez mais para ajudar. Então ter um grupo que foque nas doações, que se una e faça algo grandioso, também traz um certo conforto de que vale a pena continuar”, diz a voluntária. O grupo conseguiu apoio de várias empresas que disponibilizaram caminhões, motoristas e até combustível. Eles também têm o apoio de alguns institutos parceiros de outros estados, como um grupo de SP, o Instituto Lar e Amor, que envia contribuições em dinheiro que são revertidas nessas demandas. 

A última ação do grupo foi uma Pizza do Bem. Em parceria com a Canneto Pizzas, o grupo vendeu cartões com o objetivo de arrecadar mais recursos para a compra de itens pontuais como medicamentos, fórmula de leite infantil, entre outros. A comunidade abraçou a ideia e o grupo arrecadou mais do que o esperado para a ação. “Nosso grupo surgiu com o propósito de auxiliar as pessoas do nosso estado neste momento, mas sabemos que é algo que não vai parar por aqui. As pessoas precisarão da nossa ajuda por muito tempo e já temos planos de elaborar mais projetos no futuro, ajudando também a nossa cidade, então pretendemos continuar nosso trabalho enquanto conseguirmos”, afirma Kimberly. 

O grupo segue atuando e você pode conferir as ações e como ajudar no perfil do instagram @todosjuntos.crz

 

Mobilização das instituições 

A Atitus Educação incentivou que seus alunos, professores e funcionários atuassem como voluntários, inicialmente na triagem das doações que aconteciam na Paróquia Santa Terezinha, em Passo Fundo. Nas últimas semanas de maio, a instituição recebeu uma tarefa da Defesa Civil para fazer a triagem de um grande volume de roupas, que contou com voluntários atuando nos três turnos. “Todas as manhãs chegava um caminhão de roupas doadas e nós fazíamos o processo de triagem, separando roupas em condição de uso e tamanhos para a doação. Após as ensacamos, identificamos, e o caminhão carregava essas roupas já triadas para a Defesa Civil fazer a distribuição assertiva”, explica o Diretor da Unidade Atitus de Passo Fundo, Luiz Ronaldo Freitas de Oliveira. 

Além desta ação, a instituição também confeccionou rodos de madeira, junto a sua escola politécnica, para poder auxiliar na limpeza das casas que foram atingidas pelas enchentes. Com a meta de produzir 500 rodos, o material também está sendo enviado para a Defesa Civil de Passo Fundo, que fica responsável por fazer a destinação destes materiais. 

Os cursos da área da saúde também estão desenvolvendo importantes ações. Os alunos do curso de Odontologia da Unidade Porto Alegre estão atendendo pessoas que estão nos abrigos da cidade. Após realizarem uma triagem, eles encaminham os casos de maior urgência até o Campus Mont’ Serrat, onde as pessoas são atendidas pelos alunos com supervisão dos professores. O curso de psicologia vem oferecendo atendimentos online e presencial, visando zelar pela saúde mental das pessoas que têm apresentado quadros importantes diante do momento que vivemos. 

 

SOS Agro RS


No estado, inúmeros produtores perderam até o “solo”. O rastro de destruição que ficou nessas propriedades abrange desde suas plantações, estruturas, investimentos em em agricultura de precisão, estradas… A preocupação dos produtores em não saber como seria o próximo dia, fez com que surgisse o movimento SOS AGRO RS, que reuniu mais de 4 mil produtores de todos os cantos do Rio Grande do Sul. Segundo a coordenadora do SOS AGRO RS e co-idealizadora das AGRODELAS, Graziele de Camargo, o movimento está pedindo apoio para as prefeituras, empresas, cooperativas e entidades do setor agrícola ao pleito da Farsul. “Acreditamos que se a proposta de renegociação de dívida dos agricultores for aceita pelo governo Federal,  teremos condições de realizar a próxima safra, porém para recuperar tudo que foi perdido levará mais de 8 anos”, estima Graziele. 

O movimento SOS AGRO RS possui 25 coordenadores, mas tem a liderança de todos envolvidos com a causa. As ações podem ser acompanhadas pelo perfil no instagram @agrodelas__.

 

Novos Horizontes 360º

Inspirado em iniciativas internacionais, o programa “Novos Horizontes 360º” busca oferecer oportunidades dignas de recomeço para as pessoas e famílias atingidas pelas enchentes, por meio de uma grande aliança junto à iniciativa privada para oportunizar um novo projeto de vida à elas. Com origem em Passo Fundo,  no Instituto Aliança Empresarial, o projeto tem adesão do município de Marau e conta com a parceria do Instituto Hélice e Fundação Marcopolo, de Caxias do Sul.

O programa visa conectar oportunidades em áreas como emprego, moradia, educação, saúde, segurança, qualificação, apoio psicológico e acolhimento para as pessoas que precisam. Essas oportunidades são fornecidas pelas empresas, parceiros-chave  e lideranças  integrantes do Instituto, além da equipe de voluntários residentes no Hub Aliança, em Passo Fundo. Um grupo multiprofissional de voluntários também conduz esforços para recolocação profissional e busca por moradia digna.

O vice-presidente do Conselho de Governança do Instituto Aliança Empresarial, José Luis Turmina, explica que foram estruturados canais específicos para facilitar que pessoas ou famílias atingidas pelas enchentes e interessadas em participar façam o contato. “Prontamente, a equipe de trabalho do programa estruturou uma plataforma online, no site www.novoshorizontes360.com.br, onde as famílias interessadas podem cadastrar suas informações iniciais para se candidatar ao programa “Novos Horizontes 360º”. Colocamos ainda um WhatsApp para informações e assistência pelo número (54) 9.3505-2009”, explica Turmina. Nesta primeira fase do “Novos Horizontes 360º”, foram mapeadas mais de 200 vagas de trabalho em mais de 20 empresas e startups integrantes do Instituto Aliança Empresarial que poderão ser ofertadas. As posições são em diferentes setores, como indústria, tecnologia da informação, construção civil, comércio, varejo e prestação de serviços.

 

Rifa SOS Tchê – para mobiliar!

Com o objetivo de mobiliar as casas das pessoas afetadas pelas enchentes, um grupo de amigas de Passo Fundo teve a ideia de criar uma rifa. “Quando tudo começou eu e mais 5 amigas queríamos muito poder ajudar. Como temos muitos contatos com empresas e empresários de Passo Fundo nos mobilizamos naquele fim de semana mesmo para conseguir os prêmios para a rifa. A ideia foi ajudar com mobília porque pensamos que mais para frente seria o que as pessoas iriam mais precisar”, conta Bruna Michel, uma das responsáveis pela iniciativa. 

No total, 38 empresas e empresários da cidade doaram um prêmio em vale compras ou serviço para a rifa, que vendeu seus números a R$25,00. Até a data do sorteio, que aconteceu no fim do mês de maio, o grupo conseguiu arrecadar R$25 mil. “Também fizemos algumas campanhas para arrecadar móveis e eletrodomésticos usados, que estão sendo guardados na Katcha Korun, que prontamente nos ofereceu um espaço, e sempre que surge a demanda buscamos lá e levamos direto para a família que necessita”, complementa. 

Bruna conta que a primeira carga de móveis usados foi para Três Coroas, onde as casas não foram tão afetadas, mas os móveis sim. “Tudo foi levado diretamente para as famílias por meio de um amigo que tem empresa lá. Com o valor arrecadado estamos comprando guarda-roupas que conseguimos a preço de custo com uma empresa e, também, fabricando cozinhas a preço de custo na Auta Mobili, aqui de Passo Fundo”, destaca. 

O grupo também está auxiliando famílias que estão se mudando para Passo Fundo. “É um recomeço muito difícil e elas precisam de absolutamente tudo. O projeto Novos Horizontes nos passa as demandas de móveis e nós disponibilizamos”, explica. Além de Bruna, também coordenam o projeto: Nathalia Tebaldi, Morgana Rezer, Suelen Borin, Cristiane Becker e Maria Sendeski, e você pode seguir acompanhando as ações pelo instagram @sostche

 

Um Grupo de Conversa


Simples assim, um grupo de conversa. Essa iniciativa, criada pela psicóloga Jéssica Reusch, visa trazer um espaço de acolhimento para as angústias e sentimentos das pessoas neste momento. “Inicialmente surgiu a ideia de fazer uma live, mas por se tratar de conteúdos emocionais, precisaria de um espaço mais intimista onde todos poderiam livremente participar, compartilhar os seus sentimentos e aí veio a ideia do grupo, pois seria um espaço de troca, acolhimento e escuta empática”, conta. 

Planejado para acontecer de forma online e abranger pessoas de diferentes lugares, o grupo teve o seu primeiro encontro no dia 26 de maio. “O primeiro encontro foi um respiro, foi bom poder ouvir os pensamentos e emoções do outro, para perceber que não estamos sozinhos na nossa impotência. A ambivalência, a impotência, a frustração, a angústia e a culpa são os sentimentos mais comuns, pois há um incômodo em estar bem e seguro e estar se sentindo mal por estar seguindo a vida enquanto outras pessoas não sabem nem por onde começar”, destaca. A ideia é que esses encontros aconteçam de 15 em 15 dias, com duração de uma hora à uma hora e meia.

As inscrições, feitas a partir de um valor simbólico que é destinado a doações para os atingidos pelas enchentes, seguem abertas e podem ser feitas pelo instagram da psicóloga @jessica.reuschpsi, onde as datas e horários também são divulgados. “A intenção é dar sequência a ideia, afinal somos seres humanos e estamos a todo momento recebendo informações e sendo influenciados emocionalmente por elas, então há conteúdo para ser elaborado”, comenta. 

Sobre os conteúdos do encontro, Jéssica explica que primeiramente é feita uma breve apresentação, combinados iniciais de como será o funcionamento, explicação sobre o sigilo das informações e respeito pela expressão dos participantes. O encontro vai se baseando na pergunta inicial: “como você vem se sentindo?”. “Eu, como mediadora, busco naturalizar o sentir, trazer formas e ferramentas para acomodar as emoções com a perspectiva de refletir que apesar da dor, é possível lidar e enfrentar esse momento, pois há formas mais funcionais para encarar a nossa realidade, lembrando dos nossos papéis e funções, para nos fortalecermos exercitando a nossa humanidade, compreendendo as nossas emoções”, salienta a psicóloga. “Nesse momento tão difícil e com uma confusão de sentimentos e muitas informações frustrantes precisamos buscar apoio social, então compreender a dinâmica da conexão é potente, para enxergamos de fato a nossa humanidade. Por isso, toda e qualquer pessoa que tenha interesse e disponibilidade pode participar”, convida. 

 

Cuidar de si, para cuidar dos outros

Voluntários que atuam na linha de frente de diferentes ações passaram por momentos de esgotamento. Nós precisamos ajudar, mas para isso, também precisamos estar bem. A psicóloga Graziela destaca que é preciso fazer pausas regulares para descansar e recarregar as energias, cuidando para manter uma rotina saudável de sono e alimentação. Outras ações também são importantes, como: “Procurar realizar exercícios físicos regulares para aliviar o estresse. Dedicar tempo a atividades de lazer e relaxamento para descontrair. E por fim, estabelecer limites claros sobre quanto tempo e energia você pode dedicar às atividades de ajuda”, indica. 

Para evitar o esgotamento e manter a motivação para seguir ajudando nosso estado, é preciso manter o propósito claro, lembrando-se constantemente do impacto positivo das nossas ações. “Levando em consideração que o processo de reconstrução irá perdurar por muito tempo ainda, estratégias como agir em grupos, reconhecer os pequenos sucessos e variar as atividades, podem ajudar a manter a motivação e a energia ao longo do tempo, garantindo que as pessoas possam continuar ajudando de forma eficaz sem comprometer sua própria saúde mental e física”, finaliza a psicóloga. 

 

Crédito das imagens: arquivos pessoais



Veja também